Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Entreturnos

Gente humilde

por Lucas Salgado

Entreturnos é um filme sobre pessoas comuns. Um cobrador de ônibus, uma dona de bar, uma atendente de caixa... Há pouco charme na vida de tais personagens, mas isso não as torna menos importantes. Pelo contrário, a naturalidade e a simplicidade dos protagonistas da trama criam uma estrutura muito interessante, sem vilões, mas com humanos.

Beto (Paulo Roque) é um cobrador de ônibus casado que quase todo dia, depois do serviço, se reúne em um bar com os companheiros de trabalho. Lá, se sente atraído pela dona, Leia (Lorena Lima), que toca o bar com a ajuda do amigo Valcir (Luis Miranda). Com o tempo, os três vão desenvolvendo uma relação muito próxima e formando um verdadeiro triângulo amoroso. Ou quadrado, se considerarmos Gilda (Janaína Kremer), esposa de Beto.

A trama oferece um quebra cabeça ao espectador, contando a mesma história quatro vezes a partir de perspectivas diferentes. Primeiro acompanhamos o desenvolvimento narrativo através de Beto e na sequência vemos os pontos de Leia, Valcir e Gilda. A opção é curiosa, mas também torna o filme muito repetitivo, mesmo que cada história apresente pontos diferentes do quadro. Fica a clara impressão de que o diretor Edson Ferreira quis entregar tudo mastigadinho para o espectador, quando poderia muito bem deixar espaços para serem preenchidos pelas interpretações de cada um.

A parte em que acompanhamos a visão de Gilda, por sinal, é completamente desnecessária. A personagem é bem desenvolvida por Kremer, mas nada de novo é oferecido. Por sinal, o filme só não se tornou completamente banal pela qualidade da trama central e, principalmente, pelas ótimas atuações. A relação entre Beto, Leia e Valcir só funciona por causa da completa entrega dos atores aos personagens. 

Roque, Lima e Miranda vão bem tanto nas cenas mais dramáticas quanto nos momentos mais cômicos. O elenco conta ainda com uma participação muito especial de Milhem Cortaz. O ator de Tropa de EliteO Lobo Atrás da Porta aparece rapidamente em cena, mas cumpre bem seu papel.

Como destacado, a montagem é um dos problemas desta produção realizada e passada no Espírito Santo. Por outro lado, a fotografia e a trilha sonora são de boa qualidade e ajudam a carregar a história.

Filme assistido durante a cobertura do 21º Festival de Vitória, em setembro de 2014.