Críticas AdoroCinema
4,5
Ótimo
Guardiões da Galáxia Vol. 2

Pais e filhos

por Lucas Salgado

Lançado em 2014, Guardiões da Galáxia teve papel importante no desenvolvimento do chamado Universo Cinematográfico da Marvel. Além de retomar um padrão de qualidade após derrapadas com Homem de Ferro 3 e Thor: O Mundo Sombrio (lançados em 2013), o longa mostrou para o estúdio que havia vida para personagens às margens dos principais Vingadores. Fosse mal sucedido, poderia desencadear num rumo mais conservador para a Marvel, sem apostas como Doutor Estranho, Pantera Negra, Capitã Marvel e companhia. Mas o resultado todo mundo já sabe, o primeiro filme faturou US$ 773 milhões mundialmente e transformou personagens pouco conhecidos do grande público em verdadeiros fenômenos.

Além de apostar na adaptação de um material original desconhecido, a Marvel fez a aposta certeira em um diretor sem nenhum grande trabalho no currículo: James Gunn. Com um grande senso de humor, o cineasta se revelou o nome certo para o projeto e está de volta nesta continuação. Por sinal, o estúdio seguiu ao máximo a ideia de que "em time que está ganhando não se mexe." Além de manter toda equipe original, o longa investe pesado em algo que já havia funcionado no anterior, que é a trilha sonora. Guardiões da Galáxia Vol. 2 traz músicas de nomes como Fleetwood Mac, Sam Cooke, George Harrison, Looking Glass, Cat Stevens, dentre outros.

A nostalgica e empolgante trilha sonora já era um dos elementos mais interessantes do primeiro longa. Aqui, vai além e ganha uma maior importância narrativa. "Brandy You're a Fine Girl", do Looking Glass, marca um importante elo de ligação entre Peter Quill e seu pai, Ego. A música surge logo na primeira cena e volta mais tarde para descrever claramente uma situação. Já "My Sweet Lord", do Beatle George Harrison, é o tema perfeito para apresentar a natureza de Ego e o sentimento de descoberta que permeia seu filho. E, é claro, temos "Father and Son", de Cat Stevens, que é praticamente uma facada no peito do espectador. Prepare-se para se emocionar ao som da bela canção. É sério, você tem tudo para chorar na cena.

"Father and Son", ou seja, "Pai e filho" é mais do que o nome de uma música que integra a trilha, mas praticamente a temática que transcorre por todo filme. E não apenas no que diz respeito a dinâmica entre Peter e Ego. O longa também volta a explorar o impacto da criação de Thanos na relação entre as irmãs Gomora e Nebula, e ainda apresenta uma inusitada figura paterna.

Guardians of the Galaxy Vol. 2 (no original) é basicamente um filme sobre família. Enquanto o original mostrava o grupo se unindo, agora temos uma obra sobre uma turma que se ama e que tem que aprender a conviver com as diferentes personalidades que a formam.

Contratados pelos Soberanos para impedir o roubo de poderosas baterias, os Guardiões começam o longa já enfrentando uma poderosa criatura intergaláctica, numa cena com muita ação e com um fabuloso baby Groot dançando. Logo nos créditos de abertura, o filme já mostra a que veio, divertindo e empolgando. Mostra também uma evolução na dinâmica entre os heróis, especialmente a preocupação que todos têm com a pequenina árvore.

Após uma confusão envolvendo Rocket, o time acaba perseguido por centenas de naves espaciais. Eles são salvos por uma misteriosa nave e logo descobrem que se trata de Ego, o Planeta Vivo. Após descobrir que se tratava de seu pai, Peter o acompanha até seu Planeta (que, na verdade, faz parte dele). Ao lado de Gomora e Drax, Peter explora sua origem e tenta descobrir quem é verdadeiramente seu pai.

Ao mesmo tempo, Rocket e Groot acabam encontrando velhos conhecidos como Yondu e Nebula. Além de Ego, vivido Kurt Russell, o longa apresenta dois novos ótimos personagens: Mantis (Pom Klementieff) e Stakar (Sylvester Stallone). Outro nome que se destaca é Sean Gunn. Irmão do diretor e conhecido pelo papel de Kirk em Gilmore Girls, o ator vive Kraglin, um dos comandados de Yondu, e apresenta um ótimo timing cômico.

Guardiões 2 conta com ótimos efeitos visuais e com um roteiro repleto de referências a produções como A Super Máquina, Cheers e Mary Poppins, além de elementos da cultura pop como Pac Man e David Hasselhoff. Gunn abusa das cores fortes e do efeitos fantásticos, criando em alguns momentos uma experiência quase que exotérica, especialmente quando aborda a criação de Ego.

Um dos pontos fracos da produção está na construção de seus antagonistas, como acontece geralmente nos filmes da Marvel. Falta uma melhor motivação para o vilão (ou vilões). Por outro lado, compensa com muitas camadas de desenvolvimento de seus personagens principais. Explora a relação entre Peter e Ego, Peter e Gomora, Peter e Yondu e Peter e Rocket. Também entra mais fundo na dinâmica entre Gomora e Nebula. 

Chris Pratt, Zoe SaldanaMichael Rooker e Bradley Cooper seguem excelentes em suas performances, mas quem surpreende aqui é Dave Bautista. Seu Drax ganha muito mais espaço e, com um humor que beira o absurdo, constrói uma relação bem interessante com Mantis. O Groot de Vin Diesel é, de longe, o personagem mais adorável da produção, protagonista dos momentos mais fofos do longa. É uma espécie de Gato de Botas de Guardiões da Galáxia. Ao mesmo tempo, deve-se valorizar o fato de que o filme não exagera tanto na participação de Groot, evitando que ficasse algo muito bobo ou exagerado.

Sem medo de ser surtado, Guardiões da Galáxia Vol. 2 faz justiça ao original e ratifica o time como um dos mais divertidos do universo Marvel. Agora é esperar para vê-los em Vingadores: Guerra Infinita.

Obs: nada de sair do cinema durante os créditos. São nada menos que cinco cenas extras durante e após os créditos. Isso mesmo, CINCO. Três divertidinhas, inclusive com participação de Stan Lee, e duas realmente importantes para o futuro da franquia. Há dicas claras para o que vem por aí em Guardiões da Galáxia Vol. 3.