Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
De Menor

Causas perdidas

por Bruno Carmelo

Esta história gira em torno de dois irmãos: Helena (Rita Batata), jovem advogada idealista que defende menores infratores, e Caio (Giovanni Gallo), adolescente instável e impulsivo, cercado por amigos pouco confiáveis. Durante a maior parte do filme, os dois estão dentro de casa, cozinhando, brigando, ouvindo música. O afeto entre ele é visível, numa relação de dependência atravessada por eventuais sugestões incestuosas. Mas logo o roteiro esclarece a informação: eles são apenas dois irmãos fragilizados pela perda recente dos pais.

O roteiro de De Menor começa de maneira interessante, revelando informações aos poucos. Sabe-se que Helena namora um colega advogado apenas porque o rapaz chega à sua casa, e ela passa batom nos lábios. Compreende-se que Caio começa a vender drogas através de algumas imagens de adolescentes caminhando em sua rua. O filme valoriza a inteligência do espectador, o silêncio e o potencial dos corpos, algo muito louvável em tempos de obras tão explicativas. Mesmo a perda dos pais não ganha mais explicações do que o mínimo necessário à compreensão do público.

Assim, destacam-se imagens naturalistas, com a câmera acompanhando Helena pelos corredores, a personagem entrando em casa e tirando a roupa, o irmão dançando em seu quarto. São belas cenas, aparentemente sem propósito narrativo, mas que servem à poesia da história, ao ritmo da trama e à psicologia dos personagens. Os momentos com os jovens infratores chamam a atenção pela ausência de piedade, enquanto os advogados são retratados de maneira banal, sem heroísmo ou vilania. Carlos (Caco Ciocler), Paulo (Rui Ricardo Diaz) e Helena transmitem com verossimilhança uma espécie de boa vontade da classe jurídica, atenuada pelo cansaço da rotina e pela ineficácia do sistema prisional.

Alguns pontos, no entanto, causam desconforto. De Menor combina atuações profissionais e outras amadoras, gerando resultados muito distintos em tela. Rita Batata tem uma composição de personagem extremamente técnica, mas quando ela aparece ao lado das crianças, muito despojadas, sua atuação chama atenção demais para si mesma, fazendo o conjunto soar um pouco artificial. Os atores profissionais se sobressaem pelo esforço e pela técnica, enquanto os amadores se caracterizam pela composição crua, numa heterogeneidade que poderia ser mais bem contida pela diretora Caru Alves de Souza.

Outro elemento dissonante é a linearidade do roteiro, que caminha rumo a um clímax previsível desde os primeiros minutos. Como a maioria das cenas se passa dentro da casa e da Vara da Infância e Juventude, fica evidente que o grande conflito estaria na associação entre ambas. Quando isto de fato acontece, ou seja, quando o filme entrega o clímax prometido durante toda a narrativa, a história simplesmente termina. Constrói-se um problema de grande potencial emotivo ou filosófico, mas o roteiro ignora essas possibilidades e prefere suspender as ações.

Talvez seja um exagero dizer que De Menor é um filme conformista, ou fatalista a respeito da criminalidade entre menores de idade. No entanto, ele admite sem resistência algumas causas perdidas, algumas histórias sem rumo possível. Existe um problema grave de criminalidade entre jovens, como o roteiro demonstra com inegável lirismo, mas esta é uma questão que parece não ter causas ou consequências sociais. “É culpa da fatalidade”, como diria Charles Bovary.