Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
A Estrada 47

Um olhar humano

por Francisco Russo

Seja pela facilidade em definir um vilão e justificar o porquê de enfrentá-lo, a Segunda Guerra Mundial é um evento constantemente revisitado pelo cinema, tanto por vencedores quanto pelos vencidos. Entretanto, poucos são os filmes que retratam a participação brasileira no conflito. Por mais que a presença da Força Expedicionária Brasileira não tenha sido tão determinante quanto a das tropas dos principais países envolvidos, ainda assim foram 25 mil brasileiros enviados para o front, com centenas de histórias interessantes e reveladoras. Uma delas está no impressionante A Estrada 47, novo filme do diretor Vicente Ferraz (Soy Cuba - O Mamute Siberiano), que chega ao circuito quase dois anos após sua exibição no Festival do Rio 2013.

Bastante ambicioso, A Estrada 47 de imediato chama a atenção pelo apuro técnico da produção. O fato de ter sido rodado na Itália, em uma montanha coberta de neve, passa ao espectador uma veracidade

que auxilia bastante a história, no sentido de ressaltar o impacto do frio em pessoas tão acostumadas ao calor brasileiro, de temperatura e também de afeição. Há ainda o horror da guerra, bem representado pelo espirito em frangalhos do personagem de Daniel de Oliveira. O despreparo dos soldados brasileiros diante destes dois fatores é onipresente e surpreende também pelo tom crítico assumido em relação à própria FEB. “Inventaram um ódio forte de quem nunca vimos antes”, diz um dos soldados.

Por mais que tecnicamente seja muito bem feito, o grande mérito de A Estrada 47 é a abordagem humana em relação à tropa retratada. Neste ponto, chama a atenção a unidade formada entre os atores principais, no sentido de transparecer uma real camaradagem entre eles. A dinâmica do grupo funciona muito bem, seja sob a liderança consciente de Júlio Andrade, o à beira do desespero Daniel de Oliveira ou ainda a dupla inusitada, e até divertida, formada por Thogun e Francisco Gaspar (de longe, o melhor do elenco).

Com boas cenas de batalha e um desfecho impactante, A Estrada 47 levanta questionamentos relevantes sem jamais desprezar os envolvidos na batalha (e nem o público). Sem glorificação, mas reconhecendo os feitos conquistados, aborda com sobriedade a participação da FEB na Segunda Guerra Mundial. Muito bom filme, que merece ser descoberto pelo público em geral.

Filme visto durante a cobertura do 42º Festival de Gramado, em agosto de 2014.