Críticas AdoroCinema
3,0
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Reality - A Grande Ilusão

O fascínio pela telinha

por Francisco Russo

O início de Reality - A Grande Ilusão tem um quê de Fellini. A festa em tons exagerados, onde o grande astro é um ex-integrante do Il Grande Fratello - uma espécie de “Big Brother Itália” -, tem um tom de circo encarnado no personagem Luciano, devidamente travestido para o evento. Entretanto, a referência para por aí. O novo filme do diretor Matteo Garrone, o mesmo do pesado Gomorra, tem como foco prioritário a televisão. Nem tanto o veículo em si, mas o fascínio provocado por ele. É neste sentido que a realidade apresentada no filme traz bastante semelhança com a vivida no Brasil, onde a TV também detém uma força impressionante.

A história acompanha Luciano (Aniello Arena, em boa caracterização), o dono de uma peixaria que faz vários bicos para sustentar a extensa família – tipicamente italiana, diga-se de passagem. Um dia, ao encontrá-los em um shopping, descobre que estão fazendo testes para o programa Il Grande Fratello. Ele grava uma apresentação, o produtor gosta e, pouco tempo depois, é chamado para conversar sobre a possibilidade dele entrar na próxima versão do programa. Acreditando que está com o passaporte carimbado, Luciano antecipadamente comemora com os amigos e já faz planos para a vida de astro após o reality show. Só que o tempo passa, o telefone não toca e ele fica cada vez mais paranóico com a situação.

A grande questão de Reality não passa por uma crítica à programação televisiva nem aos reality shows, mas à devoção de parte do público à tudo que é exibido na telinha. No embalo, segue embutido um aviso em relação ao deslumbramento com o sucesso iminente, mesmo que ele sequer exista até então. É o que acontece com Luciano e com tantos outros que, aficcionados pela TV, sonham com o dia em que enfim terão a chance de estar do lado de lá da telinha.

Diante desta situação, o grande problema do filme acaba sendo sua falta de ambição – ou até de coragem, pode-se dizer. Se Gomorra tinha como ponto alto a denúncia acerca da máfia italiana, o mesmo não acontece neste filme. Matteo Garrone constrói uma ambientação onde os personagens são passivos em relação à televisão, simplesmente aguardando uma decisão dela ao invés de agir de alguma forma. Esta apatia, por mais que leve ao grau de paranoia de Luciano, acaba fazendo com que o filme se torne menos do que poderia ser.

Apesar da decepção diante do potencial que o tema apresenta, Reality – A Grande Ilusão ainda assim agrada devido a algumas características tipicamente italianas – a família promove cenas ótimas, como a do trote telefônico – e uma certa reflexão sobre até que ponto a televisão pode criar uma dependência. Fora o inevitável paralelo com a situação no Brasil, como já mencionado. Interessante, nada mais do que isto.