Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Anna Karenina

Romance de teatro

por Lucas Salgado

Keira Knightley e Joe Wright deveriam sempre trabalhar juntos. A atriz estrelou três dos últimos cinco filmes do diretor, sendo que os dois em que ficou de fora foram justamente os menos bem sucedidos dele (Hanna e O Solista). Por sua vez, a bela também não tem alcançado muito sucesso longe do cineasta. Desde Desejo e Reparação, ela realizou uma série de trabalhos inconstantes, como em Amor Extremo, A Duquesa e Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo. Talvez seu melhor trabalho neste intervalo seja em Não Me Abandone Jamais, que é um longa marcado mesmo pelas participações de Carey Mulligan e Andrew Garfield.

Mas em Anna Karenina, Knightley mostra mais uma vez que é uma boa atriz. Ela não apenas repete as expressões de Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito) ou Cecilia Tallis (Desejo e Reparação). Sua Anna, na verdade, tem um pouco das duas personagens, como a delicadeza da primeira e os surtos de luxúria da segunda.

Inspirado na obra clássica de Leo Tolstoy, o filme gira em torno de uma jovem aristocrata que choca a alta sociedade na Rússia do século XIX após iniciar um caso amoroso um eminente conde. O jovem Aaron Taylor-Johnson interpreta Vronsky, o tal conde, que não escuta os conselhos da mãe e não consegue se afastar da nova amante. O ator, que participou recentemente de Albert Nobbs e Selvagens, tem uma boa atuação, embora se perca em alguns momentos ao investir num expressionismo exagerado que falha ao transmitir as emoções que está sentido.

Jude Law, por sua vez, na pele do marido de Anna, é extremamente eficiente ao transmitir a falta de emoção que emana de seu personagem, sem com isso transformá-lo em um vilão. Mesmo que a história seja centrada no romance entre Karenina e Vronsky, é possível que o público se identifique com Karenin, personagem de Law.

O elenco conta ainda com as presenças de Matthew MacFadyen, Kelly Macdonald, Olivia Williams, Luke Newberry e Alicia Vikander, sendo que está última surge como um dos principais destaques da produção. Mesmo em um papel pequeno, a atriz de O Amante da Rainha surge graciosamente em cena e rouba as atenções quase sempre que está em quadro.

Anna Karenina possui um trabalho impressionante de design de produção. O oscarizado figurino de Jacqueline Durran não só coloca a produção em seu período histórico como também serve quase como um desfile de moda clássico, afinal a protagonista sempre que possível troca de vestimentas.

A direção de arte merece um destaque à parte. O longa quase não possui tomadas externas. Surge como um teatro antigo, com os atores passeando pelo palco e pelos bastidores da própria casa de espetáculos e criando um ambiente impressionante. Neste sentido, lembra um pouco a minissérie brasileira Hoje é Dia de Maria. O que importa é a força da imaginação. Para que mostrar grandes tomadas de Moscou ou São Petersburgo, se nosso cérebro pode criar este ambiente? Joe Wright e sua equipe, que já haviam conseguido o impossível em Desejo e Reparação, que possui um plano sequência com 4 mil figurantes, agora mais uma vez investe no novo. Na verdade, você entra tanto no clima teatral que as poucas tomadas externas podem surgir como defeitos da produção.