Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Poder Sem Limites

Heróis em foco

por Lucas Salgado

A opção por uma perspectiva originada unicamente de câmeras subjetivas não é nova. Filmes como A Bruxa de Blair, Cloverfield - Monstro e [REC] já fizeram isso, e de forma bem mais eficiente. O mérito de Poder Sem Limites é trazer essa ideia para os filmes de super-heróis. As imagens surgidas a partir do ponto de vista de uma pessoa filmando dentro do longa dão ao mesmo uma boa sensação de naturalidade. Este é o principal mérito da produção, que acaba tendo um diferencial em relação a obras como Jumper, Heróis e muitas outras. É claro que a tomada subjetiva acaba tornando o filme refém de uma ideia. Assim, temos inúmeras cenas em que a presença da câmera é forçada. Apesar disso, é inegável que foi uma boa alternativa, afinal a história não fala por si só.

A trama é bem simples. Andrew (Dane DeHaan), um jovem tímido e deslocado, decide começar a gravar tudo em sua vida, desde a doença terminal da mãe (Bo Petersen) ao tratamento ríspido do pai (Michael Kelly, nome mais conhecido do elenco). A premissa, como podem ver, serve de muleta para opção tratada acima. Mas o longa não é apenas o ponto de vista da filmadora de Andrew, mesclando registros de outros personagens e gravações de câmeras de rua ou TV.

Convencido pelo primo Matt (Alex Russell) a comparecer a uma festa do colégio, o jovem acaba envolvido numa situação que lhe dá poderes sobrenaturais. Matt também passa por isso, assim como o garoto mais popular da escola, Steve (Michael B. Jordan). O trio começa a ter que lidar com seus super-poderes e Andrew, até por ser o mais introspectivo, é quem tem mais dificuldade com isso. A construção dos personagens é feita de forma muito interessante. O filme teve a coragem que investir em um lado mais obscuro de seu protagonista e foi bem sucedido no desenvolvimento dos dois coadjuvantes, que eram dois garotos mais populares, mas nem por isso assumiam o estereótipo do "quarterback do time do colégio" tão presente em produções adolescentes.

Estreante em longas-metragens, o diretor Josh Trank fez um bom trabalho, mas chegou muito perto de um tropeço sério, afinal quase colocou tudo a perder diante de um desenvolvimento preguiçoso. O roteiro foi escrito por Max Landis, filho do experiente John Landis (Clube dos Cafajestes), e possui um frescor interessante, fugindo do padrão do gênero de super-heróis.

Além da ideia e da naturalidade, pouco se destaca em Poder Sem Limites. Depois de ótimos trabalhos em séries como True Blood e Game of Thrones, o diretor de fotografia Matthew Jensen acabou decepcionando neste filme. Ele se esconde atrás da ideia de uma câmera subjetiva para mesclar tomadas sem cuidado com outras puramente estetizadas, como a que Andrew se filma através do retrovisor do carro.