Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Contágio

EPIDEMIA SEM ALMA

por Lucas Salgado

A primeira coisa a se ressaltar com relação à Contágio é o sensacional elenco que Steven Soderbergh conseguiu reunir. Matt Damon, Kate Winslet, Laurence Fishburne, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow e Bryan Cranston são alguns dos nomes presentes na produção. Só aí estão três vencedoras do Oscar de Melhor Atriz e outros dos atores mais badalados da atualidade. Já a segunda coisa a se ressaltar com relação ao filme não surge em forma de afirmação, mas sim através de uma pergunta: como o diretor conseguiu fazer um filme tão ordinário com tantos bons nomes na equipe?

Nada em Contágio foge do padrão "filmes sobre epidemias", não conseguindo em momento algum deixar o expectador interessado com o que está acontecendo. Para piorar tudo, ainda oferece um final péssimo em que busca explicar a razão pela qual aconteceu tal situação.

Trata-se de uma obra rasa e assustadoramente fria. Não há emoção alguma e é difícil acreditar que alguém irá se envolver com os dramas dos personagens. Todas as situações são construídas em cima de clichês e de personagens estereotipados. Quem se sai melhor no elenco é Jude Law, interpretando uma espécie de blogueiro radical que tenta fazer barulho no meio da calamidade pública.

Soderbergh já realizou bons trabalhos na sétima arte, como em Sexo, Mentiras & Videotape e Traffic, mas é inegável também que é um dos diretores mais inconstantes de Hollywood, tendo deixado muito a desejar em obras como Full Frontal, Solaris e Treze Homens e um Novo Segredo. Pouco antes de lançar Contágio, muito se falou de que o cineasta iria se aposentar em breve. Ele desmentiu, mas reconheceu que deverá ficar um tempo afastado das telonas. Tendo em visto o último trabalho, parece mesmo importante que tire um tempo para refletir sobre a carreira ou sobre o que ainda tem a dizer.

Contagion (no original) possui 105 minutos, mas é provável que a pessoa que assista ao filme pense que este tem mais de duas horas. Tudo é muito lento e tudo é sem emoção, e a falta de um clímax colabora para passar a ideia de que a história não se desenvolve.

Outro grave problema é a fotografia sem personalidade. Steven Soderbergh poderia, inclusive, dividir a culpa pelo fracasso do longa com seu diretor de fotografia, mas isso acaba sendo difícil pois é o próprio cineasta que realiza a função.

O filme é nada mais que um grande desperdício de talento, mas que no final deixa algo positivo: a certeza de que em poucos anos será totalmente esquecido pelo público.