Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
O Garoto de Liverpool

Por Trás do Mito

por Francisco Russo

Celebridades costumam atrair a curiosidade das pessoas. Não apenas pelo que fazem, mas também em relação ao seu passado. Se morrem cedo ou em circunstâncias controversas, o fascínio tende a crescer ainda mais. É o caso de John Lennon, personagem principal de O Garoto de Liverpool. É justamente sua fama o único motivo pelo qual este filme existe.

Único motivo porque, no passado de Lennon, não há muito de relevante que justificasse a realização de um filme. Nele pode-se conferir elementos típicos da adolescência: a transgressão às regras e imposições dos adultos, a influência dos ídolos da época, a questão sexual e o sonho de ser um astro. Tudo temperado com uma certa dose de arrogância, salpicada pelo fato de que já se sabe de antemão que aquele garoto ali representado se tornará John Lennon, integrante da maior banda de todos os tempos. É o que justifica o título original, "Nowhere Boy", explicado logo nos primeiros minutos de filme.

Para aqueles que esperam citações à formação dos Beatles e referências à trajetória da banda, é preciso dizer que o filme pouco trata do assunto. O enfoque principal não é os Beatles, mas John Lennon. O primeiro encontro e a consequente amizade com Paul McCartney estão presentes, bem como os shows iniciais e a apresentação de George Harrison. Entretanto, tudo fica em segundo plano diante do drama pessoal do jovem Lennon.

Abandonado pela mãe com apenas cinco anos, ele vive com os tios. Após a morte do tio, é obrigado a viver com a sisuda Mimi (Kristin Scott Thomas, caricata). Lennon sabe que sua mãe está viva, mas não tem qualquer contato com ela. Quando surge a chance de enfim encontrá-la, ele não a descarta. Animada, ela apresenta a Lennon um novo universo, regado a rock'n'roll e sensualidade. O estopim foi lançado e daí para a vontade de montar uma banda própria foi um pulo.

O problema de O Garoto de Liverpool é ser, durante boa parte, um drama adolescente banal. Os temas levantados em relação à juventude de Lennon não são diferentes daqueles de garotos de sua idade, sejam da mesma época ou de outras. E, em meio a tão pouca novidade, o filme cansa. Os únicos momentos de brilho surgem quando pode-se perceber indícios da formação dos Beatles que, mesmo assim, soam em certos casos estereotipados. Como o bom mocismo de McCartney e os indícios da guerra de egos que ambos teriam, já com a banda em pleno sucesso. São breves relances que tentam, de forma simplificada, justificar o que viria a acontecer posteriormente.

Outro problema do filme é Aaron Johnson, o intérprete de Lennon. Nem tanto pela atuação, mas pela falta de sintonia com boa parte do elenco. Johnson até capricha no sotaque inglês e na caracterização de Lennon, mas traz um ar de galã que não é condizente com o personagem. Além disto, em comparação com os demais atores jovens, parece um estranho no ninho. Afinal de contas, é o mais forte de todos e, nitidamente, também mais velho. Na fase adulta a diferença de alguns poucos anos pode passar despercebida, mas o mesmo não acontece quando se fala de jovens de 15 a 20 anos. E isto, no ambiente abordado, faz diferença.

O Garoto de Liverpool é um filme que explora a fama de John Lennon na tentativa de obter uns trocados. Apresenta uma juventude típica para a época, onde Elvis Presley era o rei dos adolescentes e o visual fazia a diferença, e ainda inclui algumas situações na tentativa de servir de vidente ao que viria a acontecer no futuro do jovem retratado. Um filme decepcionante, bem aquém do que merece John Lennon.