Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
A Órfã

Carente de mais sustos

por Roberto Cunha

Existem razões para você assistir A Órfã ? Sim. E a principal, claro, é se você faz parte dos cinéfilos que gostam de suspense. Afinal, este filme de Jaume Collet-Serra (A Casa de Cera) tem os elementos do gênero e um diferencial para se levar em consideração: o foco no elenco infantil. Pode não ser novidade para você, mas não é todo diretor que topa. Ainda mais que a maldade em questão é explícita, diferente dos olhares assustadores de um Damien (A Profecia). A Órfã contém cenas de forte impacto psicológico e visual como marteladas na cabeça e automutilação, entre outras. E numa trama que fala sobre pais e filhos, é difícil, inclusive, não pensar como ficará a cabeça dos atores. Vide as histórias sobre Linda Blair após protagonizar o clássico O Exorcista.

Na história, o casal Kate (Vera Farmiga) e John (Peter Sarsgaard) decide adotar a pequena Esther (Isabelle Fuhrman), mesmo tendo em casa dois filhos: a surda e muda Max (Aryana Engineer) e o pré adolescente Daniel (Jimmy Bennet). O elenco está coeso e as melhores cenas envolvem Farmiga e Fuhrman. Com pouco mais de duas horas de duração (é longo), A Órfã não abandona o espectador e o deixa ligado até o fim. Se não chega a dar tantos sustos quanto o sinistro cartaz sugere, surpreende no diálogos de Esther e numa característica do personagem, revelada apenas na parte final. Entre as muitas frases emblemáticas, "quero dormir com o papai" (dita para o casal) e "vou cortar seu pinto antes que saiba para que ele serve" (dita para o irmão) são dois bons exemplos da insanidade contida na história.

Embora o roteiro use muitos clichês consagrados, o que não é demérito algum, o problema foi não procurar uma solução melhor na sua aplicação. Um exemplo? A óbvia e pouco convincente cena em que Esther empurra uma menina de um escorrega. É tão escancarada, como outras, e faz o longa perder a chance de ser mais envolvente e vigoroso. A coragem de liquidar uma freira com requintes de crueldade, por exemplo, não condiz com um simples grito ensurdecedor, em outra cena, para mostrar a raiva do personagem. Dá uma sensação de que a produção, de vez em quando, fica órfã de momentos arrepiantes.

Entre os absurdos que poderiam ser evitados o pior é, com a esposa no hospital, o pai voltar para casa e tomar um porre com os filhos em casa. E a conversa dele com a adotada na seqüência da cena, se feita de outra forma, poderia ser muito mais chocante pelo conteúdo que trata. Não foi. Quem teve a oportunidade de ver O Anjo Malvado (injustamente esquecido nas prateleiras da memória) vai perceber esta falta de maior tensão/conflito entre os personagens principais. Assim, A Órfã está longe de ser uma obra prima do suspense como outras que alcançaram este status, mas de qualquer forma merece ser visto numa sala escura com som bem alto para dar o clima. O argumento do filme é muito interessante e o resultado final é positivo. Vale o ingresso ou a locação quando chegar a hora! Pode adotar a dica.