Sem dar spoilers, vou tentar descrever tudo o que me recordo e fazer uma análise bastante honesta para os que estiverem interessados. Em tese, Vampire Diaries definitivamente não é uma obra perfeita como muitos dizem, mas conseguiu um feito interessante dentre as séries teen ao apresentar personagens carismáticos, alguns com motivações críveis, e se desprender do clichê da época. Com isso, aqui vemos um caso raríssimo de adaptação que conseguiu superar a obra original. Os livros de L.J. Smith são o polo oposto à série, com uma protagonista bem mais padronizada e entidades mágicas extremamente fantasiosas, diferente do sobrenatural cru apresentado principalmente nos bons três primeiros anos do show.
É uma série bastante irregular e inconstante, o que pode ser divertido quanto às reviravoltas surpreendentes da trama — o desfecho da terceira temporada continua bem fresco na minha memória —, mas isso, por vezes, resulta em fendas no roteiro. A irregularidade da série fica evidente em arcos como o de Silas, que acabou sem acabar, ou as próprias duplicatas, que não fazem tanto sentido em sua essência. Kai não é nem de longe um vilão verossímil, apesar do carisma imensurável do personagem e do talento do ator. Também é comum que Bonnie sirva de rolha para o sistema de magia quebrado do universo, quando os personagens se veem diante de um conflito tão severo que os roteiristas precisam recorrer à personagem, no lugar de dar espaço para que o grupo possa pensar e chegar a uma solução juntos, ou quando um planejamento mais adequado de roteiro resolveria tudo.
Infelizmente, o triângulo amoroso, a mocinha e o vilão fazem presença aqui, mas são nesses pontos que a série ascende. Observamos os três protagonistas se desenvolverem até que o seriado torne-se não sobre paixões e romances, mas sobre o amor entre irmãos e a amizade. Elena é uma personagem cujas mil faces são apresentadas ao longo da história, desenvolvida como nenhum outro e capaz de fazer muitos se identificarem, nem que seja em um único episódio de seus vários. Os vilões são... sadicamente adoráveis, sendo que Klaus consegue ser um dos melhores personagens apresentados (conquistando sua própria série com seus irmãos, The Originals), Katherine é um deleite de charmes e deboches na interpretação visceral de Nina Dobrev e Kai é um psicopata divertido, um ótimo acréscimo para quando a obra começava a perder força.
TVD se sustentou bem até o fim do sexto ano, quando um importante membro do elenco escolheu deixá-la. Após isso, a série perde seu pedestal e a si mesma em antagonistas desagradáveis e arcos forçados, apesar de alguns acertos ofuscados, como o desenvolvimento suave e agradável entre Bonnie e Enzo e um penúltimo capítulo de tirar o fôlego. Quanto ao último, devo dizer que se perdeu diante de tantos retornos e não foi capaz de finalizar a história com muita maestria, desfazer o emaranhado que as duas últimas partes se encarregaram de firmar. Mas é verdade que agradou muitos fãs e pôde apresentar profundidade aconchegante nos minutos finais, enxergando o show como ele é, o que foi e todos os méritos que conquistou.
Olhando por um viés crítico, a obra mereceria três ou menos estrelas, não fosse o carisma de alguns personagens e seu elenco talentoso. Como não amar a ironia escrachada de Damon e sua amizade apaixonante com Bonnie? Como não adorar a relação límpida entre Stefan e Caroline, o desenvolvimento individual de cada um dos dois? Como não admirar os feitos de Bonnie, uma personagem fortalecida ao longo dos anos e que foi se tornando condescendente aos poucos? Fora personagens subestimados, como Jeremy, o qual encontrou um desenvolvimento incrível quando ganhou destaque. Apesar dos furos, TVD brilha com sua humanidade e relações entre personagens, fazendo-nos sentir acolhidos. Só é uma pena que a obra não tenha reconhecido a hora adequada de acabar, o que poderia ter acontecido entre a quarta e sexta temporadas.