Minha conta
    O Reino Perdido dos Piratas
    Críticas dos usuários
    Críticas da imprensa
    Média
    3,4
    12 notas
    Você assistiu O Reino Perdido dos Piratas ?

    1 Crítica do usuário

    5
    0 crítica
    4
    0 crítica
    3
    0 crítica
    2
    0 crítica
    1
    1 crítica
    0
    0 crítica
    Organizar por
    Críticas mais úteis Críticas mais recentes Por usuários que mais publicaram críticas Por usuários com mais seguidores
    Rebeca_Alves
    Rebeca_Alves

    2 críticas Seguir usuário

    Crítica da série
    1,5
    Enviada em 29 de janeiro de 2022
    ESSA SÉRIE NÃO É DOCUMENTÁRIO, É FANFIC. As entrevistas são boas, e a trilha sonora é impecável. O problema é que a série se vende como "documental", sendo que ela é majoritariamente FICÇÃO. Eles distorcem e inventam histórias sobre vários piratas, sendo as maiores vítimas dessas mentiras Anne Bonny, Jack Rackham, Barba Negra, Charles Vane e Sam Bellamy.

    Há muitos erros históricos. Por exemplo, o narrador DIZ que a Era de Ouro da Pirataria começa na década de 1710, mas na verdade, ela começa em 1650 e vai até 1730. Eles "confundem" o período da República dos Piratas com o período da Era de Ouro (a República começou perto do fim da Era de Ouro). Também diz que o navio espanhol que naufragou com um tesouro que depois foi cobiçado por Benjamin Hornigold, Henry Jennings e Samuel Bellamy era o mais valioso de toda a história do Caribe. No entanto, o maior tesouro carregado por um navio espanhol no mar do Caribe foi o saqueado por Piet Pieterszoon Hein e Moses Cohen Henriques em 1628 (antes mesmo da Era de Ouro começar).

    Inventaram que o Charles Vane viu, ainda criança, o William Kidd ser enforcado. Não há nenhum registro histórico a respeito da infância de Vane. A primeira vez que ele foi mencionado em documentos foi quando já estava em Port Royal na trupe de Henry Jennings. Ele nunca viu Kidd pessoalmente. É lamentável que, para vender um produto, a Netflix INVENTE histórias e as coloca em um "documentário". Teria sido mais ético fazer um filme de FICÇÃO.

    Colocaram John Rackham (Calico Jack) como um covarde, que deixou a Anne Bonny ser capturada pela marinha enquanto ele se escondia. Na verdade, ele estava bêbado quando o navio foi capturado pela marinha britânica. Eles estavam a caminho de Cuba, para que Anne tivesse seu bebê (na série, eles colocam que ela engravidou depois que o Jack foi enforcado). Nem sequer mencionam a Mary Read, outra pirata valente da trupe de Jack, e que também estava grávida. Se Jack não estivesse bêbado, ele teria lutado por Anne. A série infere que ele não a amava. Na vida real, ele tanto a amava que estava procurando um meio de salvá-la com o bebê, e quis vê-la antes de ser enforcado. Daí que ela solta a célebre frase "Lamento vê-lo neste estado, Jack, mas se você tivesse lutado como um homem, não teria que ser enforcado como um cão". Na série, eles mudaram a frase para ela gritando no convés "Se você não é capaz de lutar como um homem, merece ser enforcado como um cão". Uma afronta à memória e história de Jack Rackham em nome de uma história inventada "para americano ver". Por fim, mentem quando dizem que Jack conheceu Anne e depois partiu com Vane, Na verdade, quando Jack conheceu Anne, ele já estava como capitão do navio que um dia foi de Vane. E ela nunca esteve nas mãos do governador para ser chibatada: ela e Jack fugiram enquanto o marido James ia contar para o governador sobre o caso.

    Em alguns pontos da história, parece que a produção quer induzir o público a acreditar que os piratas do século XVIII pensam iguais aos americanos do século XXI. Por exemplo, nas dramatizações, eles colocam o Samuel Bellamy falando como se fosse um sindicalista. Bellamy, realmente, se entitulava "Robin Hood", mas é porque Robin Hood era chamado de "príncipe dos ladrões", e ele era chamado de "príncipe dos piratas" (piratas são ladrões). Ele não fez "revolução social" e nem enriqueceu ninguém além da própria tripulação e de si próprio. Colocar Bellamy como um homem que queria "erradicar a pobreza" e "acabar com a opressão dos comerciantes" é ficcionar demais a história. Piratas não eram coletivistas: dividiam o saque entre a tripulação, mas não doavam seu dinheiro aos pobres, nem procuravam mudar a situação econômica de nenhum povo. A embarcação de cada um já era a própria "sociedade" deles. Embora a série acerte em mostrar que os piratas realmente tinham votações democráticas nos navios, eles "modernizaram" muito ao colocá-los como "justiceiros sociais" (piratas não eram leais a governos nem a sociedades, eram bem autônomos). A série tenta colocá-los como defensores de movimentos e ideias que SEQUER EXISTIAM na época de sua atuação. Colocaram Vane para fazer um discursinho desses durante seu enforcamento, totalmente o oposto do que foi na vida real.

    A série também infere que os piratas eram contra a escravidão (antes de colocarem o Barba Negra vendendo escravos). Sim, de fato muitos piratas libertaram navios negreiros e muitos escravos libertos se juntaram a eles (como foi o caso do Black Ceasar, da trupe do Barba Negra). Mas "se esqueceram" de contar que nem todos eram assim. Na verdade, vários piratas tinham escravos, e até vendiam os que eles capturavam nos navios negreiros saqueados. Dependia muito do interesse do pirata. No século XVIII eles não estavam pensando em "democracia racial" (como a fala do Barba Negra com o médico sugere). Piratas pensavam em garantir seu sustento e dinheiro. Se fosse vantajoso ter marujos ex-escravos libertos, tinham. Se era vantajoso vendê-los como escravos, vendiam.

    Mas o fim da picada está nas representações de Anne Bonny e de Barba Negra. Retrataram a Anne Bonny como se ela fosse uma prostituta, que andava com todo mundo. A dramatização mostra Anne tendo relações sexuais com Benjamin Hornigold e com Barba Negra. Pesquisei muito sobre ela e não há nenhum registro histórico que comprove esses tais "casos" amorosos. Sim, Anne Bonny traiu o marido James Bonny, mas foi com Jack Rackham. Do jeito que ela, Hornigold e Barba Negra são famosos, se ela tivesse realmente dormido com eles, os historiadores saberiam. E no caso do Barba Negra, o documentário afirma que ele só virou um pirata "ativo" mesmo porque a tripulação sobrevivente do navio do Sam Bellamy foi enforcada em Boston. Pesquisei sobre o Barba Negra: Bellamy sequer é mencionado em suas mais conhecidas biografias. A série quer dizer o quê? Que eles eram amigos? Amantes? Talvez, o verdadeiro Barba Negra nem deve ter conhecido Bellamy pessoalmente.

    No fim da série, colocam a Anne Bonny como uma patriota americana (outra vez inventando histórias para que o público americano do século XXI se sinta representado pelos piratas do século XVIII). Ela era irlandesa e só foi morar nos EUA porque o pai comprou uma fazenda lá (que depois, provavelmente serviu de abrigo para ela e o filho). De patriota, Anne e os demais piratas não-corsários não tinham nada. Inclusive, em um dos episódios eles colocam que ela foi abusada pelo pai. Isso jamais aconteceu. O pai de Anne Bonny amava a filha (tanto que a maior suspeita a respeito de ela ter escapado da morte em Port Royal é que o pai dela, rico, tenha comprado sua liberdade). Ele havia deserdado a filha antes de ela virar pirata, mas foi porque ela queria muito casar com James Bonny, que planejava roubar as terras da família dela. O pai foi esperto. Nada a ver caluniarem o pai desse jeito. O narrador diz que que "não se sabe" do que Hornigold morreu, e que "provavelmente naufragou". Os históriadores já revelaram que ele morreu em um furacão. Quer dizer, para histórias de verdade a Netflix não pode pesquisar para mostrar, mas INVENTAR historinhas mentirosas (como a infância do Vane) para agradar americanos ela pode. Ainda sobre Hornigold: ele não foi "obrigado" a caçar piratas, como a série diz, ele o fez por conta própria.

    Enfim, é uma série que conta sobre a República dos Piratas de Nassau. Não se fala sobre piratas do Caribe antes desse tempo, como os famosos Henry Morgan, Abraham Blauvelt e Francis Drake. Também não aborda outras bases famosas da pirataria caribenha, como Tortuga e Port Royal (esta última até aparece, mas bem discretamente, pois na época, ela já não era mais reduto pirata). A série mistura muito ficção com história, podendo confundir aqueles que não leram textos sobre a pirataria no Caribe e procuram se informar pelo documentário. Assinei de novo a Netflix só para ver o "documentário", e me deparei com uma série mentirosa. Me arrependo profundamente e não recomendo.
    Back to Top