O remake de Pantanal está prestes a estrear no horário nobre da Rede Globo. Planejado há cerca de três anos, após algumas tramitações para a adaptação da obra, a novela chega reformulada pelas mãos de Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, indicado ao Emmy Internacional por Velho Chico.
Um dos pontos curiosos desta nova versão, além da atualização da trama original, é a forma como o Pantanal mudou ao longo dos últimos trinta anos. Antes repleto de verde e muita água, como o diretor artístico Rogério Gomes relembrou ao revisitar o folhetim do início da década de 1990, agora a região tende a oferecer paisagens mais secas - mesmo que seu brilho se mantenha.
As últimas décadas não foram favoráveis ao local. Considerada a maior planície úmida do planeta, segundo estudo do MapBiomas divulgado em setembro do ano passado, o Pantanal perdeu 29% da superfície de água nas últimas três décadas.
Em 2020, por exemplo, houve um recorde de queimadas no bioma pantaneiro. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fogo se alastrou 210% a mais no ano, quando comparado ao mesmo período de 2019.
Durante uma das coletivas de lançamento da novela, Bruno e Rogério comentaram as mudanças mais impactantes do Pantanal. “A gente vai ver pelas imagens que esses trinta anos foram muito intensos na mudança. Alguns atores que voltaram para lá comentaram que na primeira versão, o Jayme [Monjardim] gravava muita água e hoje a gente vê muita poeira e pouca água”, explica Bruno. “Temos várias questões com o Pantanal hoje. O bioma como um todo está sofrendo uma seca muito grande. É muito importante para quem observar, que nós estamos na mesma fazenda [da novela original], no cenário principal onde foi gravada a primeira versão.”
O autor ainda explica como algumas mudanças estruturais da narrativa foram incluídas na novela para debater questões que envolvem as transformações ambientais. “A paisagem é muito próxima, mas o efeito do tempo naquele lugar será percebido em como esses trinta anos estão presentes com a obra”, avisa. “O Rogério falou muito bem sobre o Pantanal ser protagonista e ser o fio condutor dessa história. Isso tem um pouco da função dramática do personagem do Almir [Sater]. Ele é um chamaneiro que surgia no final da novela original, mas ele vinha com uma força, de uma maneira muito aguda. A gente antecipou a chegada dele, batizamos de Eugênio e trouxemos o Almir para mostrar um pouco dessa sensação que nós tivemos.”
Pantanal: Autor enfrentou desafio para trazer a trama aos dias atuais e honrar legado da novela original; entendaBruno afirma que o público verá como a “ação do homem e o agronegócio chegaram muito próximos” da região, mas pondera que a “natureza ainda fala mais alto”.”São muito bichos, muitos gritos, uma temperatura diferente, outro tempo”, explica. “Aqui a natureza fala mais alto que o homem. Esse grito está muito mais agudo, muito mais intenso, porque o homem chegou muito mais próximo do Pantanal do que há trinta anos. A gente vê a natureza muito presente, vemos os pantaneiros natos ou as pessoas que se adaptaram ao Pantanal com respeito, tendo muito cuidado ao proteger aquele bioma”.
Ele conclui: "Ali a natureza coloca o homem em seu devido lugar. Então, a gente sai de lá um pouco menor, um pouco mais humilde, mais coerente, ou sai de lá expurgado e não volta mais”. Ao que Rogério completa: "Apesar da violência vista nestes trinta anos, o Pantanal não perdeu sua força. Ele se adapta e se mantém forte. O Pantanal é soberano!"
Pantanal estreia nesta segunda-feira, 28 de março, na Rede Globo. O folhetim vai ao ar na faixa das nove.
