O maior crossover da história? Todos os desenhos animados se reuniram em um especial de TV psicodélico - para campanha de fast food

A luta audiovisual contra as drogas nos Estados Unidos vem de longa data e uma infinidade de campanhas já foram ao ar nas telas norte-americanas. Mas, em 1990, a propaganda antidrogas chegou a um auge com Cartoon All-Stars to the Rescue, um dos maiores crossovers animados da história... que não envelheceu nada bem.

Uma cilada para Michael

Alguns anos antes dessa história, Uma Cilada para Roger Rabbit mostrou que era possível fazer com que produtoras tão protetoras de sua propriedade intelectual como a Warner e a Disney concordassem em trazer seus personagens em um mega-crossover que fascinaria seus fãs. Afinal, como eles poderiam recusar uma produção feita para conscientizar os adolescentes sobre os perigos das drogas?

Cartoon All-Stars to the Rescue foi endossado pelo próprio presidente dos Estados Unidos, George Bush, que até gravou uma introdução para a cópia em VHS com sua esposa Barbara e seu cachorro.

O enredo do filme girava em torno de Michael, um garoto de 14 anos que havia se tornado vítima do abuso de entorpecentes e estava tentando ser salvo por seu irmão, Corey. Felizmente, os personagens dos desenhos animados das manhãs de sábado ganharam vida a partir de diferentes objetos de merchandising, como uma lâmpada do Garfield ou um brinquedo de pelúcia do Ursinho Pooh, e o ajudaram a sair daquele inferno antes que a pressão social o levasse direto para a tragédia.

Wang Films

Na Wang Films, os animadores do projeto tiveram apenas seis semanas para realizar as ambições de seus diretores (um episódio normalmente leva de 12 a 16 semanas) - e isso é visível. Mas foi o suficiente para convencer as principais emissoras.

Em 21 de abril de 1990, foi transmitido nas quatro principais redes com blocos de desenhos animados pela manhã: ABC, CBS, NBC e FOX, que na época não estava transmitindo desenhos animados, mas estava preparando suas séries para setembro. O engraçado é que por trás de todas essas boas intenções estava nada menos que outra megacorporação: o McDonald's.

Se lhe oferecerem, diga NÃO e siga em frente!

Não foi a primeira vez que o McDonald's entrou na indústria cinematográfica. A "paródia" de E.T. de 1988, My Friend Mac, foi uma campanha publicitária na forma de um filme no qual até mesmo Ronald McDonald fez uma participação especial.

Reprodução Espinof/Wang Films

Na época, foi possível trazer personagens das séries animadas mais populares do momento: Os Smurfs, Alf, Garfield, Alvin e os Esquilos, Ursinho Pooh, Muppet Babies, The Real Ghostbusters, DuckTales, As Tartarugas Ninja (em uma participação especial não anunciada de Michelangelo) e dois personagens dos Looney Tunes: Pernalonga e Patolino.

Além disso, essa foi uma das primeiras vezes em que o lendário Mel Blanc não deu voz a Pernalonga, pois faleceu pouco antes da produção. Ele foi substituído por Jeff Bergman, cujo primeiro papel como Pernalonga foi na cerimônia de gala do Oscar de 1990, quando apresentou o prêmio de Melhor Curta-Metragem.

Não é a única conexão com essa cerimônia de gala: o especial também apresentou uma música de Howard Ashman e Alan Menken, que haviam acabado de ganhar o prêmio de Melhor Canção por A Pequena Sereia, cantada por praticamente todos os personagens ensinando Michael a dizer não.

E no Brasil, como ficou?

No Brasil, também tivemos nossa cota de campanhas apelativas direcionadas as crianças sobre o uso de drogas, em especial nos anos 1990 e início dos anos 2000. Talvez, uma das mais memoráveis seja a feita por Eliana quando ainda apresentava seu programa infantil Eliana & Alegria. Não por acaso vários trechos cortados desse anúncio se tornaram meme na internet:

Por aqui, o especial crossover recebeu a tradução Astros do Desenho Animado contra as Drogas e foi exibido pela Rede Manchete em 1994. No entanto, o sucesso, pelo menos em termos de imaginação coletiva, foi causado pelo fato de que a cópia em VHS foi distribuída nos Estados Unidos para escolas, hospitais e até para a ONG Ronald McDonald's.

Garfield "barrou" propaganda do McDonald's?

Não, não é que o gato tenha quebrado o contrato original após uma segunda-feira ruim, mas é que ninguém pediu a Jim Davis, seu criador, os direitos autorais de seu personagem. Pelo menos é o que Davis diz, mas Mark Evanier, um dos roteiristas, insiste que o acordo com o artista era apenas para um número muito limitado de reprises. Nem mesmo a nostalgia fez com que esse especial fosse relançado de alguma forma.