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    "De Braços Abertos" - entrevista com diretora Bel Noronha

    Cineasta conversa com o AdoroCinema sobre o documentário De Braços Abertos, que aborda a construção do mundialmente conhecido Cristo Redentor.

    por Roberto Cunha

    No próximo dia 12 de outubro, além de ser Dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida, o Cristo Redentor completa 77 anos. Em comemoração à data, a cineasta Bel Noronha lança o documentário inédito De Braços Abertos, sobre a história da construção verdadeiro ícone do Rio de Janeiro e porque não dizer, do Brasil.

    O lançamento será no Planetário da Gávea, nesta sexta-feira, dia 10, em duas sessões: 19h30 e 20h30. A comemoração da data se encerra no domingo com a celebração de uma missa, às 11h, no alto do Corcovado. O Adoro Cinema assistiu uma sessão exclusiva para a imprensa, realizada no Instituto Cravo Albin, na Urca, e conversou com a diretora, produtora, roteirista, executiva (ufa!) e batalhadora Bel Noronha.

    Adoro Cinema: O que a levou a produzir essa média-metragem se você já tinha realizado um curta sobre o mesmo tema?

    Bel Noronha: Sem dúvida alguma a chance de poder divulgar com mais detalhes a grandiosidade dessa obra legitimamente brasileira.

    Adoro Cinema: Conta para nós o que você quer dizer com essa expressão "legitimamente brasileira"?

    Bel Noronha: Minha preocupação desde o começo era desmistificar um ponto importante sobre a construção do monumento.

    Adoro Cinema: Como assim?

    Bel Noronha: Por incrível que pareça, muita gente ainda acha que o Cristo foi um presente dos franceses.

    Adoro Cinema: Mas não é a Estátua da Liberdade?

    Bel Noronha: Pois é. Não se sabe exatamente de onde isso surgiu, mas dá para ter uma idéia por conta da participação de franceses no processo de construção.

    Adoro Cinema: Conta mais sobre essa participação?

    Bel Noronha: O mais legal seria as pessoas assistirem o filme. Até para absorver a aura daquele momento, junto com as informações importantes sobre um grande monumento do Brasil que é, atualmente, uma das sete maravilhas do mundo. Mas basicamente, a obra idealizada e tocada por meu bisavô Heitor da Silva Costa. Ele contratou o escultor francês Paul Landowski para trabalhar na execução das maquetes trazidas do Brasil e também o engenheiro Albert Caquot, um expert, na época, na execução de obras em concreto armado.

    Adoro Cinema: Isso é muito interessante...

    Bel Noronha: É sim. Esse escultor foi o responsável pela modelagem, em tamanho real, em gesso, do rosto e das mãos da estátua. E o engenheiro era o único que dominava os cálculos estruturais para uma obra daquele tamanho e grau de dificuldade.

    Adoro Cinema: Então você resolveu fazer tudo por que ele era seu bisavô?

    Bel Noronha: De jeito nenhum. Na verdade, fiquei encantada com as histórias que minha família contava e na medida que iam surgindo mais coisas, achei que valia a pena contar tudo para os brasileiros, cariocas e todos que ficam pasmos diante daquela obra. Por sua beleza, tamanho e localização.

    Adoro Cinema: Fale para nós mais sobre a sua obra então.

    Bel Noronha: É um média-metragem com um volume bem legal de imagens raras de acervo familiar, de colaboradores e tudo isso costurado por trechos de um diário de meu bisavô que era um cara metódico e colocou tudo no papel. É impossível não se encantar com as breves histórias que foram costuradas.

    Adoro Cinema: Então são, de fato, imagens inéditas?

    Bel Noronha: Mais do que isso! Eu diria que é um documentário bem completo que eu adoraria ver passando nas escolas para que as crianças - de agora - já crescessem sabendo que um brasileiro visionário construiu uma das sete maravilhas do mundo. Isso é super importante. Somos brasileiros e temos que nos orgulhar disso.

    Adoro Cinema: Realmente, este é um ponto muito importante.

    Bel Noronha: Muito mesmo. Hoje, vivemos um modelo voltado para o american way of life. Naquele época, os franceses eram "tudo de bom". Talvez, por essa razão, tenha surgido a tal confusão. Tem gente que diz que veio tudo da França de navio e em pedaços. Já estive em escolas e crianças disseram que a construção foi feita com helicópteros. Imagine a loucura...

    Adoro Cinema: E a obra deve ter sido uma coisa muito louca mesmo.

    Bel Noronha: No filme, as pessoas poderão ver e conhecer certos detalhes da obra e do começo de tudo. Basta dizer que o criador levou 10 anos de sua vida dedicados integralmente ao projeto. Entre o curta e a finalização desse média, levei cerca de seis anos, com um intenso trabalho de pesquisa e a impossibilidade de me dedicar integralmente ao projeto.

    Adoro Cinema: Mas o importante é que saiu?

    Bel Noronha: É claro. E o resultado ficou muito legal. Estou satisfeita. Tive, inclusive, o apoio de pessoas do governo francês que viabilizaram a viagem e a captura de algumas imagens na França, entrevistas e que apoiavam esse "acerto de contas" com Heitor da Silva Costa.

    Adoro Cinema: Então daria para dizer que a própria França reconhece esse erro, digamos, histórico?

    Bel Noronha: É verdade. Essa coisa acontece mais é aqui dentro, no Brasil mesmo. Se tudo correr bem e o filme conseguir chegar a um número grande de pessoas e, principalmente, até as crianças, vou poder olhar para trás quando estiver com a idade dos "meus velhinhos" e me orgulhar duplamente.

    Adoro Cinema: Como assim? Explica para a gente quem são esses "velhinhos"?

    Bel Noronha: Durante o trabalho de pesquisa foram colhidos vários depoimentos de pessoas que participaram de diversas formas da construção. E todos eles têm idade avançada e são uns amores de pessoas. Eu saí pesquisando, batendo de porta em porta para chegar até eles. E valeu muito a pena. São depoimentos emocionantes e reveladores. Um deles, por exemplo, revela que por trás das pedras- sabão que envolvem a estátua, existem inscrições de nomes, declarações de amor, mensagens, etc.

    Adoro Cinema: Muito legal isso! Nós do Adoro Cinema desejamos muita sorte para o documentário e que você consiga entrar nas escolas para divulgar seu trabalho e de seu bisavô.

    Bel Noronha: Obrigada. Esse trabalho é, na verdade, de todos os brasileiros que acreditaram ser possível construir uma obra daquela magnitude e sem recursos. No filme você confirma as doações que o povo fez para que a obra saísse do papel. É a prova máxima de um esforço coletivo.

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