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    Crítica: Natalie Wood - Aquilo que Persiste

    Documentário da HBO traz panorama da vida da atriz, mas parece mais interessado em abordar as circunstâncias de sua morte.

    NOTA: 2,5 / 5,0

    Natalie Wood foi uma das grandes atrizes da Era de Ouro em Hollywood. Apesar de ter falecido apenas aos 43 anos de forma trágica, Wood deixou para trás um legado que até hoje pode ser revisitado com bastante admiração. Seu talento era nato desde quando era uma criança, e sua responsabilidade enquanto artista sempre foi ressaltada por quem trabalhou ao seu lado. Tudo isso é ressaltado no documentário Natalie Wood - Aquilo que Persiste.

    No entanto, o foco do filme é dividido em dois. Um é, logicamente, a carreira sólida que Wood construiu com bastante dedicação. O outro é toda a questão envolvendo sua morte, cujo mistério ainda se mantém vivo quando é retomado publicamente. E não é por menos: o caso já foi reaberto pela polícia por novas evidências e os depoimentos de testemunhas (incluindo de seu então marido, o ator Robert Wagner) não estão completamente alinhados. Chega a ser triste entrar na reflexão de que as circunstâncias envolvendo sua morte parecem mais fortes que sua carreira de atriz em si.

    Documentário toca apenas a superfície de inúmeras complexidades

    E é por este exato motivo que a ideia de um documentário sobre a vida de Natalie Wood era tão bem-vinda - tanto para os fãs antigos quanto para quem ainda conhecerá sua obra a partir desta revisita. Mas a atenção do próprio documentário é quebrada em duas ou mais partes, visto que a estrutura se sustenta por entrevistas de sua filha Natasha Gregson Wagner com diversas pessoas (de dentro e fora da indústria cinematográfica) que só têm a dizer coisas positivas sobre a estrela, ao passo que a abordagem do filme para com sua morte chega a ser um tanto duvidosa.

    Duvidosa porque não deixa de ser estranho o fato de Natasha entrevistar o próprio Robert Wagner sobre a morte de Natalie, sendo que o documentário era inicialmente focado no que ela conquistou em vida. Quando Aquilo que Persiste adentra em seu terceiro ato, Wood torna-se coadjuvante de seu próprio espaço. Sua voz, antes presente em vídeos e áudios originados de entrevistas e arquivo pessoal, some para dar lugar às vozes de terceiros. É de se esperar algo do tipo uma vez que a atriz não está mais presente entre nós, mas a manipulação nas perguntas e no modo como as entrevistas são conduzidas deixam a pulga atrás da orelha - mesmo quando aparentemente elas nem deveriam existir.

    Como se fosse uma espécie de confessionário ou comunicado oficial, as palavras de Robert Wagner perdem força e até mesmo veracidade com relação aos detalhes do acidente de barco que tirou a vida de Wood. Além disso, o já conhecido silêncio de Christopher Walken, que estava presente na fatídica noite, enfraquece ainda mais sua "defesa". Aliado à própria Natasha, o terceiro ato do documentário se assemelha mais a uma prova de inocência, que tira completamente o tom nostálgico contido no aproveitamento de imagens, vídeos e falas da renomada atriz.

    A impressão que fica é a de que, assim como na vida real, a vida e as conquistas de Natalie Wood são enfraquecidas pelos eventos que a levaram deste mundo. A clara divisão de atenções prejudica sua própria trajetória tão marcada pelo trabalho ainda na infância, o respeito que conquistou após muito esforço e, inclusive, pela gravíssima acusação de estupro que Natalie deixou implícita em Hollywood, envolvendo Kirk Douglas. Enquanto os dois primeiros itens são abordados brevemente, o último permanece intocado. Sendo assim, Aquilo que Persiste poderia ser muito mais complexo e interessante se observasse com atenção sua personagem principal, sem limitar-se ao que já pode ser visto na superfície.

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