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    Festival de Gramado 2018: Direitos humanos e realismo fantástico compõem a 3ª noite de competição

    Longa carioca Mormaço e os curtas Plantae e Majur foram exibidos no Palácio dos Festivais.

    Se a segunda noite de mostra competitiva em Gramado foi dos retratos femininos afetivos e pessoais, a terceira abriu a conversa para o âmbito social, colocando na tela questões nacionais, estaduais e municipais, como o direito à habitação, a preocupação com o meio ambiente e os povos indígenas.

    O curta animado Plantae abriu a sessão sonhando solucionar o problema do desmatamento das florestas brasileiras com magia, apostando numa estética da natureza deslumbrante, em contraste com os traços nada realistas do único homem em cena. Apesar da inegável beleza em termos imagéticos e de mensagem, o filme assinado pelo diretor Guilherme Gehr e pelo desenhista de som Breno Furtado, no entanto, parece mais peça publicitária do que cinema.

    O domínio técnico abundante em Plantae é ausência sentida em Majur, documentário do jovem Rafael Irineu sobre o chefe de cultura da etnia Bororo na Aldeia Poboré, do sul do Mato Grosso. Chamado Gilmar e apelidado Majur, o indígena é gay e frequentemente confundido com uma mulher. Um personagem riquíssimo, cujo discurso é a única coisa que justifica a seleção dessa produção bastante amadora para a mostra competitiva nacional. A câmera na mão é extremamente instável e, frequentemente atrás do protagonista, várias vezes corta sua cabeça do quadro; as transições são duras; e uma falha na sincronização de som e imagem durante a projeção fez tudo parecer ainda pior, prejudicando o impacto das palavras de Majur a respeito da homofobia ter sido levada para as tribos pelos brancos e o testemunho de sua vivência como indígena LGBT.

    De Marina Meliande, Mormaço, terceiro longa-metragem da competição nacional, é uma obra assumidamente estranha e bastante carioca em que as transformações efetuadas na cidade em virtude dos Jogos Olímpicos criam um apavoramento que gera consequências não apenas psicológicas, mas também físicas na população. Tendo a Vila Autódromo, maior símbolo da resistência contra as remoções executadas pela prefeitura, como um dos personagens principais, o longa-metragem equilibra críticas às esferas municipais e estaduais de poder e o desconforto pessoal gerado pelas medidas arbitrárias implantadas por meio de Ana (Marina Provenzzano), defensora pública que luta pelos moradores da comunidade ao mesmo tempo em que precisa lidar com o fim de seu prédio, cobiçado por uma rede hoteleira.

    Existem ecos de Aquarius, com direito a uma nova "Clara", mas o filme de Marina tem personalidade própria reforçada por uma personagem principal especialmente construída que circula com naturalidade (ainda que em interpretação letárgica) por diferentes zonas, e com fluidez encaminha a trama da realidade nua e crua à outra coisa. Apesar de inicialmente parecer algo já visto inúmeras vezes no cinema, o reflexo do incômodo social no corpo da advogada torna-se realmente impressionante.

    Por fim, foram anunciados os vencedores da Mostra Gaúcha de Curtas:

    Melhor Filme – Um Corpo Feminino, De Thaís Fernandes

    Melhor Direção – Henrique Lahude, por Fè Mye Talé

    Menção Honrosa – A Formidável Fabriqueta de Sonhos Menina Betina

    Melhor Curta Gaúcho pelo Júri da Crítica – Sem Abrigo, de Leonardo Remor

    Melhor Ator – Sirmar Antunes e Clemente Viscaíno, por Grito

    Melhor Atriz – Rejane Arruda, de Sem Abrigo

    Melhor Roteiro – Thaís Fernandes, por Um Corpo Feminino

    Melhor Fotografia – Marco Antônio Nunes, por Sem Abrigo

    Melhor Montagem – Germano De Oliveira, por Sem Abrigo

    Melhor Direção de Arte – Taísa Ennes, por Mulher Ltda

    Melhor Música – Jonts Ferreira, por Nós Montanha

    Melhor Edição de Som – Guilherme Cassio, por Abismo

    Melhor Produção / Produção Executiva – Rafael Duarte e Taísa Ennes, por Mulher Ltda

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