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    Águas Selvagens: Coprodução entre Brasil e Argentina aborda tráfico de pessoas (Visita ao set)

    Com tom noir, filme se passa na Tríplice Fronteira, onde muitos casos acontecem.

    Pedro Rodríguez - Chaparral Pictures

    Brasileiros, argentinos e uruguaios integraram, ao longo de um mês, o set de Águas Selvagens, filme dirigido por Roly Santos. Ao acompanhar dois dias de filmagens, o AdoroCinema pôde presenciar um ambiente com aquele 'algo a mais' – e nem mesmo o frio de São José dos Pinhais atrapalhava o clima caloroso. Unindo diferentes culturas em frente e atrás das câmeras, a produção conta uma história grave e trágica, mas constrastando com o que ficava após o "Corta!".

    A trama mistura ficção com fatos e possui nomes como Roberto Birindelli, Leona CavalliMayana NeivaLuiz Guilherme no elenco. Ambientado na Tríplice Fronteira, Águas Selvagens aborda os crimes cometidos no local sob a ótica do investigador Lucio Gualtieri (Birindelli), que presencia assassinatos, prostituição e tráfico de menores e procura agir para mudar (ou pelo menos amenizar) a realidade dali.

    Roly Santos, argentino, sente que o filme ganha mais força sendo uma coprodução entre Brasil e seu país de origem: "Ele tem a ver com nós, não é algo fictício. Tanto um brasileiro como um argentino ou paraguaio poderá sentir esta história como sendo sua. O Rio Iguaçu começa aqui em Curitiba, então todas as locações são fiéis a esta trama. Ao mesmo tempo, a mistura de personagens também reflete na diversidade do elenco. Há uma diversidade cultural muito forte aqui".

    Pedro Rodríguez - Chaparral Pictures

    Tom noir

    Águas Selvagens tem como características uma estrutura séria e personagens complicados. Segundo Roly, "o personagem de Roberto Birindelli é uma pessoa boa, mas ao mesmo tempo é difícil sentir empatia por ele devido à temática do filme, que não insere muitos elementos agradáveis de se assistir".

    "O gênero do filme é o noir. Esta é uma boa forma de defini-lo. Cinema noir possui muitas camadas, cada uma tendo uma história mais difícil que a outra. A floresta representa parte da ambientação e é um motivo de encantamento do protagonista tanto pela natureza como pela beleza. Porém, após isso aparece todo o incômodo que habita ao redor dela. Este personagem sente o choque entre a cultura urbana e a cultura de tríplice fronteira", explicou o diretor.

    "Com a escolha deste estilo, a história nunca é o que parece ser", disse Birindelli, completando com elogios à filmagem do diretor: "Com a câmera elegante, a maneira argentina de trabalhar, o resultado é quase um Hemingway".

    O set

    Sobre o clima no set, Mayana Neiva refletiu, bem-humorada, que o ambiente em filmagens no geral vai se tornando cada vez mais agradável com o passar dos dias: "Quando vamos passando por várias situações juntos como equipe e você vai conhecendo o outro, tudo se torna muito real e, para mim, é aí que o filme começa a acontecer".

    Para Birindelli, a diversidade teve um papel decisivo no resultado e interação: "Nós temos seis ou sete países aqui. Eu sou uruguaino, há atores argentinos, mais brasileiros... Enfim, está tudo muito sincronizado", disse. "Atingimos este ponto juntos, nos conectando com as possibilidades e impossibilidades. Quando você entende o outro ser humano, existe essa ponte", completou Mayana.

    Quanto ao trabalho de direção de Roly Santos, Birindelli não poupou elogios. "Sabe quando você se afina com o outro? Ou fecha ou não fecha, e com nós não havia nada no meio." O ator ainda brincou ao comparar a importância da confiança entre diretor e atores com o cenário dentro do futebol: "É tipo Cavani e Suárez, sabe?", disse, entre risos.

    Possíveis leituras do público

    Sobre os resultados e discussões que o filme poderá entregar ao público quando estrear, o diretor Roly Santos disse que o enxerga como um ato de criação, de entretenimento. "Apenas desejo que o filme proponha ao público a reflexão do tema, mas não creio que ele terá um efeito social marcante. Não espero uma revolução, não acredito muito isso", explicou. 

    Para o ator Luiz Guilherme, Águas Selvagens trará reflexão especialmente por conta do roteiro, pois nele "há uma outra forma de escrever sobre a vilania". Assim como para Birindelli, que afirmou que vivemos um momento em que estamos falando de um mundo sem lei, onde todo mundo compra todo mundo. "O filme fala disso e permite mostrar, em uma história de fronteira, caminhos do nosso pensamento. Às vezes, o tema principal não é o que o protagonista está fazendo. Veja, por exemplo, O Segredo de Seus Olhos: ele fala de um período político conturbado, sim, mas o principal é o ambiente. Aqui, o ambiente também fala. A história é outra, é uma investigação policial, mas permeia o ambiente. Esta atmosfera é muito importante em Águas Selvagens", garantiu.

    Leona Cavalli, nascida no Sul, viu em Águas Selvagens a chance de se aproximar ainda mais de sua cultura local e sente que o roteiro do longa também ajudará na imersão. "O cinema vai a lugares que a TV não alcança, e o teatro muito menos. Temos um bom roteiro, um filme sério e que ainda aborda questões como o tráfico humano. Este crime, além de ser pouco abordado no cinema, é uma das coisas mais terríveis que existem, é uma realidade crescente. Fala-se muito do tráfico de drogas, mas pouco sobre o tráfico de pessoas", afirmou.

    As filmagens de Águas Selvagens já foram encerradas e o longa tem previsão de estreia para 2019.

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