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    Festival de Gramado 2016: Filme sobre Elis Regina evita polêmica enquanto O Roubo da Taça acerta no humor

    Uma biografia abaixo da média, uma comédia excepcional.

    A primeira noite de mostra competitiva no 44º Festival de Cinema de Gramado trouxe dois dos concorrentes mais aguardados desta edição: Elis, de Hugo Prata, e O Roubo da Taça, de Caíto Ortiz.

    Biografia light

    O projeto Elis era aguardado há bastante tempo, e de acordo com o diretor, foi concluído poucos dias antes de sua primeira exibição pública em Gramado. O filme proporciona um panorama amplo da carreira de Elis Regina, desde a adolescência até a morte.

    A atriz Andreia Horta faz um esforço notável para captar os gestos e expressões da cantora, enquanto Júlio Andrade e Caco Ciocler têm boas interpretações, mas o resultado é comprometido pelo fraco roteiro, que cita vários episódios da vida de Elis sem desenvolvê-los, e pela tendência do diretor à estética televisiva, com muitos closes e trilha sonora exaltando o melodrama.

    Aspectos importantíssimos da vida da cantora, como o uso de drogas e a relação com a ditadura militar, foram abrandados para evitar polêmica. Mesmo assim, o público aplaudiu bastante ao fim da projeção.

    Feios, sujos e malvados

    Embora Elis tenha decepcionado, a boa surpresa ficou por conta da comédia O Roubo da Taça. Aproveitando o crime rocambolesco de 1983, quando dois ladrões inexperientes conseguiram roubar a taça Jules Rimet, o diretor Caíto Ortiz fez um divertido retrato da malandragem carioca, sem heróis nem vilões.

    O filme é ajudado por uma atuação excelente de Paulo Tiefenthaler - desde já, sério candidato ao Kikito de melhor ator - e pela bela direção de fotografia. Uma comédia popular de alto nível, com boas chances de captar a atenção do público em sua estreia comercial.

    Leia a nossa crítica.

    Edison Vara / Pressphoto

    128 personagens

    A noite também trouxe uma bela homenagem a Tony Ramos. O ator não escondeu a felicidade de receber o troféu Cidade de Gramado: "Sempre trabalhei para um dia ser reconhecido, não poderia ser hipócrita de negar isso", lembrando que seu primeiro filme foi cinquenta anos atrás, quando ele tinha apenas dezoito anos de idade.

    "Quero dividir esse prêmio com os 128 personagens da minha carreira", completou após assistir a vídeos com depoimentos dos amigos Daniel Filho e Dan Stulbach. Emocionado, Tony Ramos ressaltou que sua carreira é baseada na falta de preconceito em relação às mídias - cinema, televisão, teatro - e à falta de preconceitos na vida de modo geral. O ator foi aplaudido de pé pela sala lotada do Palácio dos Festivais.

    O engajado e o descontraído

    A noite também trouxe os dois primeiros curtas-metragens da mostra competitiva. O projeto coletivo Black Out revela a falta de recursos - inclusive de energia elétrica - dos quilombos no nordeste brasileiro.

    Os diretores se apoiam na metalinguagem, mostrando uma dezena de moradores dos quilombos tomando decisões conjuntas quanto à montagem do filme. Talvez a estética e o discurso não tenham o mesmo alcance do engajamento social, mas os méritos de Black Out são principalmente de ordem conceitual. Os diretores ainda fizeram um discurso particularmente relevante ao apresentarem o filme, criticando as políticas do governo interino em relação aos quilombos.

    A comédia Aqueles Cinco Segundos segue por um caminho radicalmente diferente. Um casal (Gabriel Godoy e Luciana Paes) conversa em um quarto de motel, relembrando o início do relacionamento entre os dois. Nessas histórias, percebem algumas lacunas improváveis, como a ausência do primeiro beijo. Godoy e Paes possuem ótimo timing cômico, mas o texto tem fôlego curto, e não demonstra grande elaboração cinematográfica para além da anedota. 

     

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