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    Festival de Berlim 2015: Filme alemão surpreende com uma única sequência de 2h20 de duração

    Victoria, de Sebastian Schipper, dividiu o público com a história de um grupo de amigos em uma noite que foge do controle.

    Todo grande festival de cinema costuma contar com alguma produção controversa, daquela que desperta paixão ou raiva nos críticos e nos espectadores. O 65º festival de Berlim já tem pelo menos um desses filmes extremos: o alemão Victoria, dirigido por Sebastian Schipper.

    O mais impressionante na história de 2h20 é o fato de ter sido filmada em uma sequência única, ou seja, a câmera inicia o seu movimento e só se interrompe 140 minutos depois. Enquanto isso, as imagens acompanham a espanhola Victoria (Laia Costa) e uma noite incrível em Berlim, quando se diverte em bares, cruza com um quarteto de amigos carismáticos e perigosos, envolve-se em crimes, talvez conhece um novo namorado... 

    A produção é realmente impressionante, afinal, deve ter sido difícil orquestrar tantos deslocamentos de câmera e de atores. Para ajudar, os enquadramentos são belos, a fotografia trabalha muito bem as luzes naturais e o ritmo é agradável para o espectador. O roteiro, no entanto, causa menos impacto: a partir de uma primeira metade naturalista e dramática, Victoria envereda pelo cinema de gênero, tornando-se um filme de gângsteres pouco original. 

    O público do festival saiu dividido: alguns valorizaram a técnica, outros reclamaram que a estética não deveria se sobrepor ao conteúdo. 

    Sarcasmo em versão moderna

    Além de Victoria, outros dois filmes foram apresentados aos críticos: Journal d'une Femme de Chambre, de Benoît Jacquot, e Ixcanul, de Jayro Bustamante.

    O filme francês atualiza o romance clássico "Diário de uma Camareira", que já foi levado ao cinema por Jean Renoir e Luis Buñuel. Jacquot tenta modernizar a história de uma camareira vivaz e perversa (Léa Seydoux, perfeita para esse papel), que sabe muito bem como lidar com a burguesia hipócrita da época, incluindo patroas maldosas, patrões lascivos e colegas de trabalho pouco confiáveis.

    O diretor conseguiu incluir diversas cenas estranhas, beirando o surrealismo cômico, pautadas por movimentos de câmera igualmente incomuns, como o abuso dos zooms in e out. O resultado foi voluntariamente bizarro, talvez não o suficiente para marcar a memória dos jurados, mas o bastante para se destacar das outras produções apresentadas no festival.

    Tradições e rituais

    Ixcanul foi um raro filme guatemalteca em competição na Berlinale. A história gira em torno de María, uma adolescente que chega na idade de se casar, de acordo com os costumes locais. Mas quando sua família arranja um casamento indesejado, María começa a sonhar com a possibilidade de fugir para os Estados Unidos.

    As imagens de Ixcanul são muito belas, com uso cuidadoso da fotografia nos grandes planos abertos da natureza. O diretor demonstra notável respeito pelos costumes do pequeno povo de origem maia, mas não tenta criar muita empatia por María. A jovem é vista por um olhar externo, frio, tornando a obra exemplar e demonstrativa demais. 

    Sete filmes já foram apresentados na competição até agora. Curiosamente, seis deles tinham mulheres como protagonistas.

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