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    A Chave do Vale Encantado
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    A Chave do Vale Encantado

    Paraíso ou ilusão?

    por Barbara Demerov

    Engana-se quem pensa que Oswaldo Montenegro vive só de música. Amante do teatro, da literatura e do cinema, o artista conseguiu unir todas essas artes dentro de um projeto autoral iniciado em 1995: o romance O Vale Encantado. Após escrever o livro, utilizou o texto para compor a trilha-sonora e, mais para frente, produziu a peça de teatro contando a mesma história.

    Diferentes extensões da arte serviram de canal para Montenegro contar esta história sobre sonhos e contos de fada, mas só após mais de 20 anos foi criada uma versão cinematográfica. A Chave do Vale Encantado é uma manifestação visual de cores e música, expressando o amor do artista pelo projeto e por tudo o que foi consequência desde 1995. No entanto, este não é um filme que atinge todos os públicos, por mais que exista a tentativa.

    A trama possui, em média, vinte personagens diferentes – sendo a maioria deles tirados de contos que viraram animações da Disney ou originados de países da Europa e América do Norte. Curiosamente não há nenhum personagem retirado do folclore brasileiro; quem forma a essência do longa é Branca de Neve, Rapunzel, o Príncipe, Chapeuzinho Vermelho, Robin Hood, Pinóquio, entre outros. Em conjunto, heróis e até vilões (como a Bruxa Má e o Lobo Mau, que na verdade são do bem) coexistem em um ambiente perfeito. Ou quase perfeito.

    A tal chave do Vale Encantado leva aquele que a possui ao mundo real, ao nosso mundo. E quem cuida dela? Nem Gepeto, nem Fada Azul: o responsável é Papai Noel, o único ser que vai e volta ao Vale durante a época de Natal. Apesar de todos entenderem o propósito da chave, a maioria dos personagens gostaria de conhecer a "realidade" e ir além dos sonhos de crianças. Tal desejo gera um grande impasse entre todos (que demora muito tempo para ser resolvido no filme).

    O primeiro e o segundo ato de A Chave do Vale Encantado são resumidos em canções sobre as histórias dos (muitos) personagens, o que torna a narrativa exaustiva para quem se encaixa em um destes perfis: não é mais criança/não gosta de musicais. Há momentos em que as músicas (executadas por Montenegro) basicamente não ganham nem um respiro e tornam-se uma sequência, como uma playlist sem pausa.

    Um ponto divertido por sair um pouco dos clichês é a brincadeira feita entre personagens, modificando o rumo das histórias que todo mundo já conhece. Aqui, a Branca de Neve tem um crush no Dunga e a Chapeuzinho Vermelho se dá bem com o Lobo Mau. Mas o humor para por aí: o marasmo do enredo é tão acentuado que basicamente nada além das músicas e da explosão de cores acontece, e tal cenário só muda no último ato.

    Com atuações que deixam a desejar num modo geral (com exceção de Deto Montenegro e Rafael Canedo), A Chave do Vale Encantado ainda deixa implícita uma mensagem um tanto contraditória: devemos nos fechar em um mundo inacessível e perfeito ao invés de olharmos o lado bom do "mundo real"? Por mais que a mensagem se dê aos personagens originados de contos e animações, que querem ficar em seu próprio paraíso, tal escolha também parece se estender para nós, pessoas do mundo real. A realidade não é perfeita, mas também não deve ser deixada para trás.

    Filme visto no 25º Festival de Vitória, em setembro de 2018.

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