No fim de 2017, Jumanji: Bem-vindo a Selva foi uma surpresinha agradável – mesmo que ninguém tenha pedido uma nova versão do famoso livro de Chris Van Allsburg – que já tinha ganhado uma adaptação em 1995, estrelada por Robin Williams – o filme se mostrou um grande sucesso de bilheteria e convenceu a critica, graças a um trabalho atencioso de roteiro e da direção de Jake Kasdan para conceber seus personagens realmente simpáticos, carismáticos e divertidos – o diretor cumpriu bem a “cartilha de aventura para toda família de sessão da tarde” – havia bons efeitos especiais, aventura e um clima “mágico” que aventuras assim exalam.
Mas como Hollywood não vive só de simpatias, era bastante obvio que Jumanji teria uma continuação – assinada novamente pelo próprio Kasdan, Próxima Fase consegue manter praticamente todas as qualidades do primeiro longa – mas, infelizmente, alguns de seus defeitos também – como mencionei, os personagens são adoráveis e engraçados, realmente – mas, ao tentar explorar demais suas verves cômicas, fica claro que Kasdan e o roteiro estabelecem inúmeros momentos desnecessários – e, ao contrário do trabalho anterior, o tempo custa um pouco a passar do segundo ato para frente – afinal, inúmeras piadas invadem o projeto – muitas realmente divertidas, mas também responsáveis por pausar a narrativa e, consequentemente, o ritmo, algo que incomoda a apreciação de uma boa aventura e seu clima de ação – sem falar que, novamente, a trama peca por não apresentar ameaças realmente assustadoras ou muito preocupantes para os heróis – mesmo que a intenção seja de ser um filme leve e descompromissado, isso tira muito da urgência da trama.
Este novo trabalho segue os quatro adolescentes do filme anterior agora – com seus trabalhos e estudos – tentando se reunir novamente, o grupo marca um encontro, mas Spencer (Alex Wolff), na casa de seu avô Eddie (DeVito), acaba por entrar novamente no jogo, através do antigo videogame danificado no filme passado – os demais amigos, Martha (Turner), Bethany (Iseman) e Fridge (Blain), decidem procurar por ele – mas, ao encontrarem o aparelho no porão da casa, acabam entrando no jogo – levando, sem querer, o vovô Eddie e o Sr. Milo (Glover) – chegando em Jumanji, eles se deparam com uma nova missão, precisando encontrar um artefato roubado por um perigoso líder de bárbaros que querem dominar a região – única forma de conseguirem também localizar Spencer e sair do jogo – algo que se complica porque seus avatares estão trocados: o vovó Eddie agora é o Bravestone (Johnson) e Milo é o Finbar (Hart); enquanto que Fridge é o Oberon (Black) – com Martha ainda sendo Ruby (Gillan).
Apesar do começo dinâmico em apresentar como Spencer está inseguro com seu namoro com Martha – o roteiro tenta ir por bons e maus caminhos à frente – se é hilário conferir os novos personagens (Eddie e Milo) encarnando os papeis de Dwayne Johnson e de Kevin Hart, é um tanto enfadonho notar o que relegam a personagem de Madison Iseman – afinal, qual a vantagem ou motivo de Bethany não ir pra Jumanji junto dos outros amigos? Qual a função de colocar o personagem de Colin Hanks novamente na trama? Seu avatar, vivido por Nick Jonas, não tem praticamente nenhuma função agora, ao contrário do filme anterior – o roteiro encontra problemas também em demonstrar o funcionamento de certas coisas dentro de Jumanji, como o tempo perdido para explicar a função de um misterioso tipo de piscina com uma água estranha e aparentemente contendo algum tipo de energia – que não explico para evitar spoilers.
Já o humor dá certo a maior parte do tempo, pelo menos – como disse, a participação dos novos personagens é realmente divertida – ao contrário dos jovens, Eddie e Milo não tem conhecimento sobre os vídeo games, e se encontram confusos – o que proporciona momentos realmente engraçados – como Eddie descobrindo as “qualidades” de Bravestone – a aparição rabugenta do veterano Danny DeVito no primeiro ato é muito bacana, o suficiente para vermos que Dwayne Johnson consegue realmente imitar os tracejos deste – impossível não rir de seus lapsos de memória ou quando faz o tal do olhar de “campeão” de Bravestone – curioso ver um ator um tanto limitado como ele conseguir isso, mostrando como seu carisma pode realmente ajuda-lo a desenvolver sua verve cômica – algo que Kevin Hart também consegue, ao pegar os modos do também veterano Danny Glover – aliás, a relação de amizade de Eddie e Milo consegue ser algo bem inserido e verdadeiro – quase emocionante, embora um pouco apelativa e forçada mais ao fim. Já Karen Gillan repete sua esperteza e expressões adolescentes através de sua Ruby – ao passo que Jack Black pode viver duas personalidades, seja a da Bethany e de Fridge – ambas engraçadas e funcionais. O longa ainda conta com a personagem da atriz Awkwafina, vivendo uma nova avatar do jogo, Ming Fleetfoot – em curiosa composição por mostrar um personagem com habilidades diferentes dos demais – já que ela é especializada em roubos.
Mas o que o roteiro e direção de Próxima Fase realmente não se esforçam em melhorar, realmente são os vilões – o líder dos bárbaros, vivido por Jared Hasmuk, que quer uma estranha joia indígena em formato de coração – e nem se preocupe em querer entender o sentido dessas coisas – é um personagem tão genérico que quase não me lembro de nenhuma de suas frases – é claro que o roteiro forçará piadinhas com ele também – como quando inserem a música do Big Mountain, “Baby I Love Your Way”, durante uma briga generalizada no castelo do vilão – enfim, nada ameaçador ou marcante; embora o espirito de trama de jogos de videogames dos anos 80 e 90 tenha dessas coisas – vilões sem personalidade – não ficaria ruim uma criação mais elaborada. E é evidente que alguns personagens aqui só aparecem para serem possíveis ganchos nas continuações – o “Canivete”, vivido pelo ator Massi Furlan, é um exemplo disso.
O que acaba por fazer isso ser perdoado talvez sejam os atributos técnicos de Jumanji – novamente, os animadores de computação gráfica merecem os parabéns – o bando de avestruzes no meio do deserto e o ataque dos perigosos mandris (uma espécie de macaco) sob um local cheio de pontes suspensas – numa recriação insana do local, lembrando o final do clássico Indiana Jones e o Templo da Perdição, mas bem mais exagerado – o cuidado na criação dessas criaturas é realmente impecável – melhor possível, creio eu – proporcionando ótimas cenas de ação – bem executas, editas e enquadradas – como a já citada cena das pontes e a perseguição com bugs no deserto – além das recriações grandiosa de todos os cenários da trama.
Apesar de não ser um trabalho muito esforçado, é um daqueles filmes para você ver numa matinê, simplesmente para rir e relaxar com as piadinhas vindas de seus personagens carismáticos – às vezes é bom quando a arte proporciona só isso mesmo. Assim como seu antecessor (e a versão dos anos 90), já é um candidato a “clássico de sessão da tarde” para os próximos anos.
** tem uma cena durante os créditos finais.