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    Gaga: Five Foot Two
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Gaga: Five Foot Two

    I am not a girl, not yet a woman

    por Taiani Mendes

    Não é loucura a música de Britney Spears dar nome à crítica sobre o documentário da Netflix sobre Lady Gaga. Apesar de parecer diferentona, a outrora estrela mais excêntrica da música pop mundial não está tão distante das colegas de nicho no seu cerne. Todas querem fazer muito sucesso, o que inclui não desapontar os fãs, fazer shows em estádios, vender. A grande diferença é que Gaga faz um caminho inverso ao usual, se retraindo da construção espetacular imponente para a mulher de short e camiseta que mal é reconhecida no supermercado. A remodelação da imagem é reflexo do amadurecimento pessoal pela entrada nos 30 anos e Gaga: Five Foot Two acompanha a artista no crucial momento transitório da preparação e lançamento do álbum Joanne, o desnudamento do ícone.

    Dirigido e fotografado por Chris Moukarbel (Banksy Ocupa Nova York) às vezes com aspecto de registro amador de turnê, às vezes com aspecto de reencenação para um plano melhor, o filme adota a estratégia tripla de “invadir” a intimidade de Stefani Germanotta, narrar a reinvenção artística e acompanhar os bastidores do auge de sua carreira, a apresentação no intervalo do Super Bowl LI. Três frentes para um resultado: a normalização de Lady Gaga. Ela explica sem rodeios o problema com Madonna, reclama do então noivo Taylor Kinney, pede maconha, toma injeção na bunda, chora de dor, se sente só, visita a família, tira foto para postar no Instagram e assim a parte da humanização é resolvida, ao passo que reuniões de equipe, gravações no estúdio e ordens ao cinegrafista/diretor mantidas na edição evitam que sua faceta poderosa saia enfraquecida. Ninguém discorda de suas opiniões e para que tudo fique mais verdadeiro algumas broncas da estrela em colaboradores fazem parte do documentário, “ataques” em que ela inclusive tem a razão e mesmo assim não dispensa se explicar para a câmera. Está na cartilha do profissionalismo.

    Profissional incansável, sempre na correria entre gravações, ensaios, entrevistas, TV, música e cinema, a Lady Gaga mulher de 31 anos é uma adorável contradição que declara toda hora finalmente ser uma adulta e quando cai aos prantos esconde o rosto dizendo ser uma garotinha. Mais segura de si do que nunca e simultaneamente ansiosa ao ponto de ter que tomar remédios, ela convence o espectador de que é tão comum quanto uma Joanne em detalhes como lamentar sempre perder os namorados nos momentos marcantes de sua vida ou o trecho em que coloca seus discos na frente de todos os outros na prateleira do Walmart. A doença que a fez anunciar uma pausa na carreira e cancelar na véspera o show no Rock in Rio não chega a ser nomeada como fibromialgia e aparece como um empecilho adicional a ser superado, não a ameaça real ao seu ofício que se revelou – a maior preocupação que ela externa é se conseguirá engravidar, mais humana impossível.

    Começando e terminando com o aclamado show no NRG Stadium em fevereiro, Gaga: Five Foot Two é uma peça de marketing maravilhosa, no nível da visita da artista ao supermercado em busca de seu novo CD. Tamanha ascensão como a vista na cena inicial não se dá sem dor, insegurança, trabalho, solidão, trocas, e o documentário “desce” até a rotina da mortal Lady Gaga, cara limpa, para mostrar que ela não é só uma cantora e compositora de hits, adorada pelo público LGBT, que gosta de causar vestindo figurinos extravagantes. E ela sequer os usava apenas para aparecer mais, explica. No longa Gaga é a garota do estúdio, a mulher que bate de frente com o machismo da indústria, a artista que se emociona com os fãs, a gestora que toma todas as decisões, a atriz que se prepara antes, a neta carinhosa, a amiga que bate no carro do amigo, a paciente com dor, várias coisas exceto a esquisita da roupa de carne. O glamour é perdido, o conceito de Joanne é explicado, as músicas são tocadas. Em boliche seria o famoso strike. Five Foot Two é a altura da protagonista e também o título alternativo de uma canção que toca no documentário. Na letra um homem procura sua garota e diz “se você encontrar uma five foot two coberta com peles, anel de diamante e coisas assim, aposte que não é ela”. Tampouco Lady Gaga.

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