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    Glory
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Glory

    Natureza predatória

    por Lucas Salgado

    Glory é aquele tipo de filme que navega por vários gêneros. É basicamente um drama, com alguns elementos cômicos, mas que no fundo, no fundo é quase um terror. Não, você não vai sentir medo. Mas irá se ver diante de um cenário horripilante que, infelizmente, não é muito distante do nosso dia a dia.

    O filme se passa na Bulgária e envolve corrupção estatal e opressão de classes de trabalhadores mais pobres. Qualquer semelhança é mera coincidência.

    Tsanko Petrov (Stefan Denolyubov) é um humilde sujeito que trabalha retirando entulhos em uma linha de trem. Determinado dia, ele encontra uma mala com enorme quantidade de dinheiro. Honeste, ele decide entregar o montante à polícia. Após isso, mesmo sendo criticado pelos colegas de trabalho - que não tomariam a mesma atitude -, ele acaba sendo homenageado pela secretaria de transportes, sendo usado como ação de marketing de um órgão que vive sob denúncias de corrupção.

    Como recompensa pela atitude, Petrov ganha um relógio de pulso e a oportunidade de conhecer o secretário de transportes. Simples e com dificuldades de se comunicar, ele deixa seu relógio pessoal, herança de seu pai, com Julia Staikova (Margita Gosheva), chefe do departamento de relações públicas que está cuidando da cerimônia. Após o evento, ele trata de procurar pela moça, que já tinha deixado o local. Apegado ao objeto - e descontente com o fato do novo relógio não funcionar direito -, Petrov passa então a procurar por Julia, que já não tem ideia de onde o objeto se encontra.

    Glory é não apenas o título do filme, mas também a marca do relógio que se perde. O item é importante na medida que representa o apego de Petrov e, de certa forma, o desleixo de Julia. O filme acerta, no entanto, ao não antagonizar os personagens. Embora Julia se mostre uma mulher que tenta manter uma certa pose, ela também é alguém que lida com muita pressão em suas vidas pessoais e profissionais, sofrendo para equilibrar tudo isso.

    De certa forma, o antagonista maior é o sistema, que coloca os dois em posições opostas e que vai gerando um desgaste e uma revolta que cresce aos poucos, seja em Petrov, seja no espectador.

    Após o bom trabalho no drama A Lição, os diretores e roteiristas Kristina Grozeva e Petar Valchanov voltam a se destacar em uma trama dura e importante, que tem como foco personagens palpáveis, uma gente comum que toma atitude comum.

    De certa forma, não é um filme otimista. Pelo contrário, muitas vezes mostra que tudo pode piorar. O que, infelizmente, é algo próximo da realidade em muitas sociedades em desenvolvimento.

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