O que esperar de uma produção independente brasileira e praticamente sem orçamento?
Uma pergunta que nos faz pensar logo em produções com toda aquelas características de guerrilha que costumamos ver em resultados de oficinas sobre linguagem cinematográfica. Afinal de contas se o cinema convencional brasileiro (realizado com o apoio e leis de incentivo) ainda está engatinhando em termos de qualidade e industria, quando comparado a grandes produções internacionais, imaginem o cenário independente?
Seguindo a precursores do cinema brasileiro que se enveredaram pelo gênero fantástico e de terror, o cineasta paulista Renato Siqueira nos presenteia com seu trabalho em "Diário de um Exorcista -Zero", longa-metragem adaptado do livro homônimo escrito por ele e Luciano Milici, em que dirigiu, roteirizou com também com Luciano Milici e produziu junto com Beto Perocini (Perocini Filmes) associados aos produtores Wagner Dalboni e Edu Hentschel (Deus Ex Machina Cinema) o melhor de tudo é que o filme não é Trash. Isso mesmo, o filme não é um TRASH.
Lembro-me da primeira vez que fui apresentada ao trailer, pelo titulo e por ser nacional, de cara já imaginei em produções como a de José Mojica Marins, nosso grande cineasta eternizado no papel do Zé do Caixão, referencia internacional de cinema brasileiro, por isso, logo intui que o filme tivesse a mesma pegada, mas para minha surpresa o trailer filme ja apresentava um estética padrão international, que não deixa nada a deve para filmes hollywoodianos.
Assiste o filme uma semana depois do lançamento e foi surpreendente e em certos momentos assustador.
O roteiro é bem intrigante e segue por uma linha diferente da maioria das historias já contadas sobre possessão, aqui temos a saga contada através de um padre, chamado Lucas Vidal (Manoel Lima), um senhor de idade, que expõem suas experiencias a dois recém formados documentaristas (Adriano Arbol e Waldemar Dias), passando por todas provações que o levaram ao sacerdócio e posteriormente a especialização em exorcismo, sendo aprendiz de dois dos maiores exorcistas da historia, os irmãos Pedro e Thomas Biaggio (respectivamente Luiz Marigo e Fábio Tomasini).
O filme é cheio de referências com sequencias que remetem a diversos filmes aclamados que abordam o tema e outros clássicos como "O Exorcista", Dois Homens em conflito e REC, difícil não lembrar também de Matrix, na ótima cena onde o jovem padre Lucas (o próprio Siqueira) é introduzido a pratica de exorcismo pelo Pe. Pedro Biaggio (Marigo) e Stars Wars Uma nova esperança (os mais atentos percebem logo no trailer).
O filme é bem conduzido pelo Siqueira (pela atuação deve ter feito o seminário), que consegue uma ótima interpretação do elenco, destacando o atores veteranos Fábio Tomasini, tambem Luiz Marigo, Manoel Lima, Olivia Camargo, Lisa Negri (in memorian) e Vininha de Moraes (in memorian), e também as possuídas interpretadas pela Katiane Reeves, Chris Fernandes e Cibelle Martin e Marcela Pignatari (numa pequena participação) elas dão um show, sem esquecer é claro das ótimas participações de Ruben Espinoza, Edson Rocha, Silmara Viktoria e Vynni Takahashi.
A direção de fotografia ficou a cargo de Beto Perocini (Direção de fotografia/Elétrica/Produção) com colaboração Wagner Dalboni (Produção/Som Direto/ Elétrica), criando uma ambientação ao melhor estilo vintage, com tons Âmbar, remetendo a textura e tons de película, dando destaque para as chamas das velas e as lampadas incandescentes que remetem as décadas em que o filme se passa. Outro ponto interessante foi o uso de planos próximo e close-ups criando um ambiente igualmente claustrofóbico.
A direção de arte foi realizada por Tati Siqueira, e por sinal, audaz para um filme praticamente sem orçamento financiado, pois o filme retrata praticamente três épocas diferentes, onde acabamos percebendo algumas limitações da produção. Destaque para os efeitos especiais que estão ótimos, as transformações faciais deixam muitos filme "B" para trás.
Diário de um Exorcista - Zero consegue exito ao revigorar a nova leva criativa para filmes de diversos gêneros, uma ambiciosa produção independente com baixíssimo orçamento. Com certeza merecia ter sido lançado no cinema.