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    Até que a Casa Caia
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Até que a Casa Caia

    Do deboche ao conformismo

    por Bruno Carmelo

    Esta comédia dramática está sendo apresentada ao público como um estudo dos “novos arranjos da família brasileira”, algo mais que pertinente nesta maré reacionária da política nacional. A premissa gira em torno de Rodrigo (Marat Descartes) e Ciça (Virgínia Cavendish), um casal divorciado que mora sob o mesmo teto por questões financeiras. Mas o que fazer quando Rodrigo quer levar a nova namorada para casa? Como o filho adolescente lida com esta configuração?

    A dinâmica familiar poderia gerar comicidade pelo olhar paternalista (como nas comédias independentes americanas), pelo sarcasmo (como em Woody Allen) ou pela desconstrução surrealista em estilo Todd Solondz, por exemplo. Mas o diretor Mauro Giuntini prefere o deboche: o professor é apresentado como um ser patético, dando aulas sem convicção a alunos igualmente patéticos, enquanto a ex-esposa é ridicularizada por suas crenças místicas, a jovem namorada é alvo de chacota ao incorporar o clichê da loira superficial, e assim por diante.

    “Mas isso é humor, não dá para levar a sério!”, diriam alguns. Certamente, esta é uma comédia, o que não significa que está isenta de responsabilidades no retrato humano, especialmente num projeto com intenções sociológicas tão evidentes. O caso mais extremo do desprezo encontra-se no retrato da política, vista como um simples antro de corrupção. Este segmento, o mais sério da história, defende a ideia tão banal e difundida de que “ninguém presta, nada vai mudar, não adianta se esforçar” etc.

    O conformismo contamina a segunda metade de Até que a Casa Caia, quando a comédia se transforma em drama. Neste momento, Giuntini demonstra crença na transformação das pessoas, que podem aprender com seus erros, como bons cristãos. Mas o projeto reafirma que o sistema jamais mudará, condenando a namorada (que ousou interferir num matrimônio) a ser enganada e explorada pelo sujo jogo da política. Ao invés de olhar com respeito à “nova família brasileira”, o roteiro reforça a importância do matrimônio, da fidelidade, da honestidade intelectual, do amor dos pais pelo filho – e lembra, para quem ainda não sabe, que a corrupção é algo ruim.

    Pelo menos, o filme conta com bons atores. Marat Descartes e Virginia Cavendish sempre transitaram habilmente entre o drama e a comédia, e apesar de seus personagens estereotipados, lutam para encontrar um tom uniforme ao filme. Marisol Ribeiro também se esforça para ser algo mais do que a “loira burra”, que o roteiro tanto despreza por sua classe social, por seus gostos populares e por sua falta de elegância. Haveria ressalvas a fazer sobre a fotografia tipicamente televisiva e a limitação dos enquadramentos, mas os maiores problemas de Até que a Casa Caia não se encontram na estética, e sim no discurso. Para um filme sobre afetos, o resultado decepciona pelo julgamento moralista e conservador.

    Filme visto no 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em setembro de 2015.

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