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    Meninas Malvadas: O Musical
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Meninas Malvadas: O Musical

    Remake musical de Meninas Malvadas não supera filme de 2004, mas tem Regina George brilhante

    por Aline Pereira

    Exatos 20 anos separam Meninas Malvadas de seu remake musical para o cinema – e quando falamos mais especificamente de comédias dos anos 2000, essas duas décadas podem significar uma boa leva de referências e estilos que já não fazem sentido ou que não seriam mais de muito bom tom. É com total consciência disso que o filme de 2024 se equilibra para atender uma nova geração ao mesmo tempo em que evoca o poder extraordinário da nostalgia. E mesmo com deslizes, faz o barro acontecer!

    Baseado diretamente no musical da Broadway que estreou em 2017, Meninas Malvadas: O Musical reproduz quase que diálogo por diálogo o filme de 2004. As poucas mudanças feitas servem mais para acomodar as canções em meio ao desenrolar da trama e, como já adiantei, para “atualizar” alguns pontos principais com uma representação mais compatível com a adolescência de hoje em dia – as redes sociais que não existiam antes, por exemplo, tem papel importante agora.

    Assim, começamos a acompanhar a história de Cady (Angourie Rice), uma adolescente educada em casa que se muda do Quênia aos Estados Unidos para frequentar a escola pela primeira vez. Lá, faz dois novos amigos, Janis (Auli'i Cravalho, a voz da Moana!) e Damian (Jaquel Spivey), que a convencem a entrar em um plano para derrubar Regina George (Reneé Rapp), a garota mais popular da escola.

    Paramount Pictures

    Aos poucos, no entanto, Cady é sugada para o universo “plástico” de Regina e suas fiéis melhores amigas, que é um mundo cheio de glitter, regras e aparências. Apesar de seguir à risca a lei de usar rosa às quartas-feiras, Cady comete uma infração grave: se apaixona pelo ex-namorado de Regina, Aaron Samuels (Christopher Briney, de O Verão Que Mudou Minha Vida), e dá início à uma guerra no mundo das garotas.

    Meninas Malvadas: O Musical é uma cópia do filme de 2004?

    O efeito desta “reprodução” (com muitas aspas aqui) tão fiel do filme original pode estar muito ligado à conexão do espectador com o longa estrelado por Lindsay Lohan. Fenômeno da cultura pop dos anos 2000, Meninas Malvadas certamente cativou um lugar especial no coração de sua geração e para este público mais antigo não há novidades propriamente – no lugar, o que vem é um banho quase irresistível de nostalgia.

    Com exceção das músicas, é claro, tudo é muito parecido com que já vimos antes (inúmeras vezes, no meu caso), mas ainda assim é difícil não sorrir ao relembrar muitas das cenas (quem é que esqueceu o “ela nem estuda aqui”?) e momentos icônicos dos personagens – das protagonistas aos incríveis coadjuvantes como o matleta Kevin G. Mas é isso o que O Musical tem a oferecer. Aqueles que não forem capturados pela magia nostálgica vão sentir mais a falta do elenco original – e provavelmente vão querer rever o filme de 2004.

    Como obra “isolada” – se é que dá para encararmos assim –, Meninas Malvadas: O Musical é um bom “filme de escola”. As questões de insegurança, bullying e busca por pertencimento ainda são (e talvez sempre sejam) inerentes à adolescência e a comédia encontra um caminho enérgico e divertido para contar sua história. É improvável que o filme tenha o mesmo impacto popular do longa de 2004, mas as boas performances musicais temperam entretenimento a que se propõem – o que nos leva ao próximo tópico.

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    As canções de Meninas Malvadas tem tudo para agradar mesmo aqueles que não são tão chegados a musicais de forma geral. Temos uma longa lista de músicas com personalidade e boas interpretações, que se encaixam naturalmente nos trechos em que são inseridas na história. Aqui, as canções marcam os momentos de maior sinceridade dos personagens – enquanto as aparências se mantêm no mundo real deles, a música vem como libertação e afirmação do que querem e de quem realmente são.

    Nova Regina George é ponto alto do remake

    Quando o nome de um personagem vira sinônimo de alguma coisa no mundo real, o impacto é inegável. Foi o que aconteceu com a antagonista interpretada por Rachel McAdams e, hoje, 20 anos depois, sabemos que é preciso ter cuidado quando ouvimos que “tal pessoa é meio Regina George”. Reneé Rapp, sem dúvidas, fez sua lição de casa e a nova abelha-rainha é tão intimidadora quanto magnética. Entre todos os personagens, ela é quem parece mais autêntica mesmo quando repete exatamente as falas de Rachel McAdams.

    Reneé (ótima na série The Sex Lives of College Girls também) parece ter encontrado um bom equilíbrio entre trazer identidade própria sem descaracterizar sua personagem, enquanto, em alguns momentos, fica a sensação de que os outros membros do elenco estão se esforçando demais para emular à risca as atuações do filme de 2004 – que nem sempre se encaixam muito bem. Angourie Rice, por exemplo, também traz muitas das falas Lindsay Lohan, mas sua personagem tem uma aura muito mais inocente, como se não fosse a mesma Cady.

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    Os novos Janis e Damian também são destaques e, entre todos os personagens, talvez sejam os que mais tiveram uma “modernização” em seu roteiro, tanto no visual, quanto na profundidade. Além disso, claro, são os protagonistas de algumas das cenas mais cômicas do filme original – da festa de Halloween à briga com Cady.

    Meninas Malvadas: O Musical começa nos avisando que vai deixar com uma “lição de moral” e é como se estivéssemos prestes a ver um antigo conto de fadas ser recordado e transmitido para uma nova geração com um ar de lenda e homenagem mesmo, não como uma tentativa de substituir um pelo outro – que não daria certo.

    Antes da estreia, a divulgação do longa trazia a mensagem de que “este não é o Meninas Malvadas da sua mãe” e, bem, de fato, talvez seja impossível reproduzir exatamente as sensações que uma história causou tantos anos antes porque nem a ficção, nem o público continuam os mesmos.

    Mas ainda é interessante que, ao passo em que alguns comportamentos mudam radicalmente com o tempo (ainda bem!), sobreviver ao ensino médio e às Reginas Georges continua sendo uma missão universal: ainda estamos tentando escolher as mesas certas para ficar no recreio e o que são as redes sociais, se não uma versão digital do livro do arraso?

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