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    Roger Waters - The Wall
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Roger Waters - The Wall

    Marcas pessoais

    por Francisco Russo

    A abertura do filme traz Liam Neeson dizendo ao público o quanto um show do Pink Floyd, com as músicas do emblemático disco The Wall, o influenciou. Natural. Se a ópera-rock já impressiona por sua mensagem contra o totalitarismo e a censura, seja ela de que forma for, imagine para alguém nascido na Irlanda que, durante boa parte da vida, teve que lidar com as divisões e discussões decorrentes do conflito católicos versus protestantes. Ainda assim, a sinceridade do ator chama a atenção e faz pensar no quão profunda pode ser uma marca deixada pela arte. Quem não tem um filme, uma série ou uma canção que não tenha marcado para sempre?

    Este viés pessoal é um dos objetivos de Roger Waters - The Wall, o filme. Afinal de contas, o próprio Waters embarca em uma jornada pessoal ao visitar os túmulos do pai e avó, cada um morto em uma Grande Guerra Mundial. Se o impacto da perda precoce, em ambos os casos graças a decisões tomadas por governos, foi decisivo para que a ópera-rock fosse criada, o que chama a atenção de fato é que, por mais que décadas tenham se passado, o peso permanece. Seja através do silêncio respeitoso ou em uma lágrima furtiva, Waters revela sua intimidade (ou parte dela) através do pesar que sente.

    Explorar este lado pessoal dentro da exibição da turnê The Wall é o grande acerto do diretor Sean Evans, ao encaixar de forma coesa pensamentos e lembranças de Waters em meio ao emaranhado de simbolismos e mensagens presentes na ópera-rock. Na verdade, trata-se do único momento em que pode-se notar de fato o dedo do diretor, já que 90% do documentário se resume a exibir cenas do show The Wall. Por mais que seja bem filmado, trata-se de um trabalho menos cinematográfico, por assim dizer. O que de forma alguma diminui sua qualidade, ainda mais ao se considerar o propósito do documentário, que é levar o show a todos que não puderam vê-lo (ou que desejam revê-lo) na turnê que rodou o mundo entre 2010 e 2013.

    Quanto ao show, bom, ele é de fato um espetáculo impressionante. Se a qualidade das canções já é conhecida de antemão, surpreende o gigantismo da produção em torno da ópera-rock, com um muro que é “construído” durante o espetáculo e que se transforma em um imenso telão. Citações à animação Pink Floyd The Wall não faltam, bem como referências a abusos cotidianos e mensagens de incentivo à liberdade, que tão bem se adequam à proposta da ópera-rock. É neste contexto que surge, aos poucos, a jornada pessoal de Waters, retratando o próprio vocalista como uma das vítimas do absurdo tão bem denunciado em The Wall.

    Por mais que seja mais show do que propriamente cinema, Roger Waters The Wall é um filme que merece ser visto principalmente pela qualidade sonora e visual do espetáculo, bem como as analogias políticas levantadas. Apesar de ser impossível replicar o impacto de quem viu o show de perto, serve para ter uma boa ideia da proposta e da grandiosidade do espetáculo, em seus vários aspectos. Muito bom.

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    Comentários

    • Edijos Brasil Souza Brasil
      Simplesmente genial, antológico esse mega show
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