Pense em Os Intocáveis misturado com A Culpa é das Estrelas e temos Como Eu Era Antes de Você, sucesso literário de Jojo Moyes, que ganha agora sua versão para os cinemas. Mesmo com um material com pouca criatividade, temos um romance convencional capaz de emocionar mesmo não trazendo nada novo ou realmente reflexivo sobre o gênero. Apoiando-se com veracidade em alguns clichês que a vida conseqüentemente nos traz no dia a dia, Como Eu Antes de Você emociona, mas nem sempre da forma mais sincera, digamos assim.
Apenas a sinopse já nos mostra que a indução as lagrimas será natural: temos a história de Louisa Clark (Emilia Clarke, de Game of Thrones), vivendo em uma cidade interiorana inglesa, onde ela precisa de emprego para sustentar sua família humilde e acaba por encontrar trabalho na casa da rica família dos Traynors, onde terá que tomar conta do tetraplégico Willian (Sam Claffin de Simplesmente Acontece). De inicio, Willian repudia a companhia de Clark. Mas não leva muito tempo para que os dois comecem a se sentir atraídos, principalmente após a moça descobrir que o rapaz já não tem planos de querer viver por muito tempo, o que faz com que ela planeje viagens e passeios afim de despertar a vontade de continuar vivendo em Willian. A paixão acaba nascendo – e com força – entre os dois.
Com um roteiro escrito pela própria autora do livro, temos uma história bem casada, que proporciona entender exatamente e sinceramente as emoções e personalidades dos personagens centrais, possibilitando a diretora conduzir com honestidade os atores – em situações emocionantes que vão aflorando aos poucos dentro da trama, que é, visivelmente, das mais simples. Essa simplicidade e simpatia fica escancarada em nossa protagonista: Emilia Clarke pode ser mencionada sem dó como a simpatia em pessoa, tamanho o seu sorriso e modo como transmite o jeito desengonçado de sua personagem, que veste um figurino propositalmente brega (para alguns, talvez não) e exagerado, lembrando uma garota de doze anos ou menos. Mesmo o clichê da “super dedicação” ficando ligado quase que por todo o filme, é tocante o modo como se mostra preocupada em tomar conta de seus familiares, assim como, é claro, do próprio Willian, que logo passa para a moça a preocupação de que ela passou dos vinte e cinco anos e não se preocupou com seu próprio futuro – de fato, isso o que emoldura toda a suposta “lição” que o longa quer tirar da história de amor entre eles. Com Emilia acertando quase que durante todo o tempo – ela apenas exagera no tal sorriso simpático em alguns momentos, como se a diretora apenas dissesse “seja a mais simpática possível e só” – temos uma atuação mediana de Sam Clafin, quase não convencendo de que é de fato um tetraplégico, pois não é em todo tempo que consegue refletir isso com suas expressões faciais limitadas – no caso, temos um tipo de atuação em que não é exigido expressões corporais, devido o estado do personagem. Esta certa apatia no rapaz é compensada por alguns diálogos espirituosos com a personagem de Emilia – seja quando ela tenta cantar uma musica para ele, seja ao receber um presente um tanto inesperado, ou ao tentar arrumar um lugar para o rapaz em um passeio a um restaurante – para não deixar o filme extremamente choroso, a diretora lida bem com momento de humor, que ajudam a quebrar o gelo em vários pontos da história. Mas o teste para os machões fica por conta de duas belas cenas: quando os dois tentam dançar durante uma festa de casamento e a cena noturna na praia – essa realmente levou o cinema aos prantos na sessão em que assisti – alias, a Warner Bros. foi inteligentíssima em lançar o filme na semana do dia dos namorados, garantindo ao filme uma das maiores bilheterias do mês aqui no Brasil.
Se acerta na questão que diz respeito à lealdade e o respeito entre os protagonista – e também na relação de Clark com sua família – o roteiro de Jojo Moyes parece não se preocupar muito em mostrar qual seria a tal ambição da personagem de Emilia em estudar moda, em uma falta de definição de personalidade que o desastrosos 50 Tons de Cinza também tinha – de forma que parece não causar tanto impacto no final, que se não chega a ser apelativo, pelo menos pode ser considerado moralista e previsível pelos destinos de cada personagem – outro problema, vem do namorado de Clark, vivido por Matthew Lewis, aparentemente, jogado na trama para uma comparação (desnecessária) de como seu caráter e dignidade são incomparáveis aos de Willian, que mesmo estando fisicamente invalido, demonstra ser um companheiro bem melhor do que o rapaz esportista e companheiro da moça. Outra omissão do roteiro é a questão sexual. Mesmo a proposta do filme não sendo das mais ousadas, este aspecto – mais precisamente a impossibilidade do casal se relacionar sexualmente – é apenas “mencionado” pelo roteiro em dois pequenos diálogos (embora no último seja constatado de forma bem triste por Willian). Mesmo emocionando por uma atitude tão nobre por parte de Clark (de aceitar um companheiro neste estado), algo se perde da lógica do relacionamento que os dois tentam manter – convenhamos, o sexo pode não ser tudo, mas a falta dele pode ser algo comprometedor para uma relação, ou seja, uma questão que exigiria uma profundidade bem maior do roteiro – não me pergunte se isso foi tratado mais amplamente no livro, pois não o li.
Outro fator que impede que o filme seja mais memorável, é a falta de inspiração para a composição visual, seja por enquadramento convencionais demais – mais parecidos com os de series ou novelas televisivas – ou por uma pouca expressão de cores e entonamentos de tela na direção de fotografia – ou seja, não há muito requinte técnico que impressione, deixando o filme aparentemente mais raso, caindo em um visual comumente usado em romances adolescentes convencionais, porém não deixando cair para a mediocridade, pelo menos.
Sem se levar a sério e isento de uma profundidade sobre todos os aspectos que uma situação passada por essa história poderia levantar, Como Eu Era Antes de Você é um romance convencional com poder de emocionar com seus clichês de forma sadia, porém, sem causar alguma reflexão maior sobre o espectador.