Assisti ao filme pela primeira vez há poucos dias e não consigo parar de pensar nele.
Para começar, é muito engraçado ver a (até excessiva) expressividade da bela atriz Emily Clarke, no papel de Lou Clark, uma garota contente e cheia de vivacidade, mesmo sem ter grandes sonhos e ambições para si. Ela divide a cena com Sam Claflin, um ator muito bonito, cujo personagem, William Traynor, preso para sempre a uma cadeira de rodas, vai do amargos à doçura nascida dos novos sentimentos. São lindos os dois juntos, a forma como nasce o amor entre eles, o sorriso que vemos aparecer aos poucos.
Contudo, algo me intriga: como todos podem amar um filme que é apenas
uma apologia ao suicídio?
Will só se apaixona por Lou devido ao acidente, então, como ele era antes de conhecê-la não é importante! Ele só existe agora, depois do acidente, com as possibilidades de experimentar um amor puro e verdadeiro. O cara é lindo, milionário, charmoso (mesmo que apenas possa expressar em seu rosto), jovem, tem acesso a tudo de que pode precisar. O mais importante é: ele, agora, encontrou um grande amor, por quem pode se doar integralmente. Mas não! Ele não quer se doar minimamente! Fica apegado à ideia fixa de morrer, porque só pode imaginar a vida "como era antes". Como assim? Quer dizer que tudo o que está vivendo agora com ela é falso?! Quer dizer que o amor por si mesmo está acima do amor que pode sentir por ela!? Alguém pode argumentar: "Ah, mas ele deixou dinheiro para ela experimentar a vida", e eu direi: "Ele poderia ter dado todo o dinheiro do mundo para ela, estando vivo, porque, para ela, era ele que importava, não o dinheiro dele". Ele não precisava morrer para doar o dinheiro, então não há nem uma gota de altruísmo no gesto dele.
Sim, é lindo ver os dois juntos, mas, na verdade, ele é um egoísta mimado, apegado a um passado em que ela jamais teria ficado com ele, porque ele, arrogante como era, jamais teria nem sequer olhado para a garota destrambelhada que ela é.
Will é um personagem péssimo, na verdade. Isso me intriga. Como todos podem achar linda uma história de amor em que o amor é por apenas um dos dois, ou seja, em que ambos ali vivem apenas para Will e amam somente ao Will? Um "amor" em que a vontade onipotente dele é a única coisa que importa? Ela está ali para ele, e ele está ali para ele mesmo também, para fazer sua própria vontade, egoicamente.
Alguém mais pode dizer que "Ah, mas ele tinha dores!", e eu direi: "Ter dores e ter acesso a todos os recursos imagináveis não é tão ruim quanto ser pobre e ter de fazer vaquinha para comprar uma cadeira de rodas simples", então, não, isso não é um bom argumento.
Estou intrigada e, confesso, com muita raiva. A história é uma grande enganação, isso sim.
Para Will, a única forma de viver era a dele de antes, incluindo para a vida da Lou. Ela, antes dele, era feliz, mas ele não acha suficiente a alegria dela: para ser feliz, a pessoa tem que se sentar em um café em Paris, viajar pelo mundo, ser atendido por garçons. Não se pode ser feliz apenas vivendo um grande amor em uma cidade pequena. Não se pode ser feliz apenas porque se ganhou um presente adorável, ou porque se tem uma família para ajudar. Não! O sábio da montanha da felicidade é o arrogante Will! Ele é quem sabe do que uma pessoa precisa para "ser feliz".
E quando Paris for apenas uma lembrança? E quando Lou Clark não tiver mais dinheiro para viver uma vida que nunca foi o que ela ambicionava?
Além disso, a história é uma irritante apologia ao suicídio, à eutanásia.
Louvor a gente egoísta e mimada, como Will era antes de Lou e faz questão de continuar sendo, sem se permitir amar e viver o amor que lhe bate à porta.