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    À Procura do Amor
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    À Procura do Amor

    Romance maduro

    por Francisco Russo

    Quando a série de TV Seinfeld estourou, a expectativa era que seus atores principais logo migrassem para o cinema. Não foi o que aconteceu. Um caso emblemático é o de Julia Louis-Dreyfus, que até trabalhou em outras séries – As Novas Aventuras de Christine, Veep – mas ficou 16 anos ausente das telonas. Sim, é isso mesmo, seu último filme havia sido Desconstruindo Harry, de 1997 – desconsiderando as animações que dublou, como Aviões e Vida de Inseto. Ou seja, À Procura do Amor é uma raríssima oportunidade de vê-la no cinema, uma chance recompensada pelo desprendimento e timing cômico demonstrados pela atriz em seu trabalho mais recente.

    A história acompanha a massagista Eva (Julia), mãe solteira que sofre por antecipação devido à partida de sua filha para a faculdade em outra cidade. Um dia, em uma festa, ela conhece por acaso Albert (James Gandolfini). O papo flui e logo surge um convite para um encontro, onde ambos se divertem bastante. O namoro começa, ambos estão felizes, até que Eva faz uma descoberta desconcertante: uma de suas clientes, Marianne (Catherine Keener), foi casada com Albert – e só fala mal do seu ex-marido. Seria então o príncipe encantado um sapo disfarçado? Com a pulga atrás da orelha, e a inevitável curiosidade feminina, Eva finge que não conhece Albert e alimenta sua cliente para que ela fale mais. Só que, com o passar do tempo, o próprio relacionamento entre eles é influenciado pelo que Eva acaba descobrindo.

    Há várias nuances envolvendo o filme... a maior delas é que trata-se de uma história de amor maduro, envolvendo pessoas em torno dos 40 anos. Ou seja, nada de amor à primeira vista ou declarações bombásticas de que encontrou o homem/mulher de sua vida. Tanto Eva quanto Albert são separados, sabem bem dos problemas que a vida a dois pode trazer e possuem uma boa noção do que querem para si. Não é a toa que a aproximação entre eles acontece aos poucos, cada um testando o outro, já que há sempre o medo de se arriscar e dar errado – de novo. É neste ponto que entra em cena um dos trunfos do filme: os diálogos. Bastante espirituosos, eles exploram com habilidade a capacidade de Julia em fazer comédia e ainda despertam o lado bem humorado de James Gandolfini – sim, o eterno Tony Soprano sabe contar uma boa piada!

    Diante deste cenário realista, vem então a segunda importante questão: o cuidado necessário para manter o relacionamento, não no sentido de evitar uma separação mas para buscar o bem-estar de ambos os envolvidos. É aqui que a trama de À Procura do Amor se desenrola, já que o trauma dos relacionamentos fracassados do passado faz com que Eva cada vez mais dê atenção aos comentários feitos por sua cliente, chamando para si defeitos que ela até então jamais havia notado. Uma atitude de certa forma compreensível, diante do histórico pessoal que possui, mas que também ressalta uma questão bastante comum nos dias atuais, onde o medo de sofrer faz com que as pessoas evitem se arriscar, mesmo que vislumbre a possibilidade de felicidade nesta “aposta”. Mais humano, impossível.

    Transitando entre questões pertinentes ao mundo contemporâneo, não apenas em relação ao amor mas também sobre solidão e até mesmo trabalho, À Procura do Amor é uma comédia dramática agradável e espirituosa, que tem como alicerces as boas atuações do casal protagonista. O filme ainda traz uma certa nostalgia pela presença de Gandolfini, que faleceu em setembro deste ano e aparece bastante à vontade em seu último papel no cinema. Bom filme.

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