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    O Que as Mulheres Querem
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    O Que as Mulheres Querem

    Histeria nonsense

    por Francisco Russo

    Retratar os interesses e necessidades da mulher moderna sempre foi um grande desafio, não apenas no cinema mas em qualquer meio artístico. Não apenas pela complexidade da personalidade feminina, mas também pela forma como elas são apresentadas, muitas vezes sob um olhar preconceituoso. O Que as Mulheres Querem, longa-metragem de estreia da diretora (e também atriz) Audrey Dana, tenta mais uma vez responder a pergunta do capcioso título brasileiro (o original, traduzido ao pé da letra, significa “Sob as Saias das Meninas”). O surpreendente é que, assim como aconteceu com vários de seus companheiros de profissão, a resposta é extremamente machista.

    Senão, vejamos: são ao todo 11 protagonistas, espalhadas em historietas que, teoricamente, retratariam os dilemas da mulher moderna. No melhor estilo filme-coral, onde as personagens coabitam a mesma realidade e, vez ou outra, se encontram. Há da mal amada à desconfiada, da profissional dedicada que não teve tempo para cuidar da vida pessoal à que precisa se dedicar a cuidar da mãe, da tentada pela traição à devoradora de homens casados e por aí vai. Em meio à esta multidão, há também mulheres extremamente caricatas, que mais parecem personagens saídas do “Zorra Total”. Todas com uma característica em comum: são histéricas!

    Por mais que O Que as Mulheres Querem até traga algumas questões relacionadas ao universo feminino, o que chama a atenção é o modo como tais elementos são apresentados no decorrer do longa-metragem. A futilidade de várias das subtramas impressiona, negativamente, ressaltando piadas tolas envolvendo comparações ofensivas, joguinhos de conquista tolos e o medo do envelhecimento. Neste último item, chama a atenção o visual de Isabelle Adjani, quase irreconhecível devido ao exagero no Botox. Entretanto, nada consegue ser pior do que a irritante motorista de ônibus ninfomaníaca de Julie Ferrier, repleta de tiques e piadas absolutamente sem graça.

    Entretanto, nem tudo é desgraça no longa-metragem. Merece destaque o bom trabalho de Géraldine Nakache, uma das poucas personagens bem construídas, apesar de sua história ser uma réplica da subtrama de Alice Eve em Sex and the City 2 – a diferença é que, aqui, houve a coragem necessária para seguir adiante com a história da babá lésbica. Por outro lado, a condução do roteiro visando o encontro de todas as protagonistas no mesmo ambiente soa não apenas forçado, como resulta em uma sequência arrastada e desnecessária.

    Com a ideia em mente de criar uma comédia nonsense sobre o universo feminino, Audrey Dana conseguiu apenas ressaltar os estereótipos e preconceitos em torno de seu próprio gênero. O mais impressionante é que, ao menos desta vez, a tendência ao exagero partiu de uma mulher, já que Dana também assina o roteiro, ao lado de Raphaëlle Desplechin e Murielle Magellan. Ou seja, trata-se de um tremendo tiro no pé, não só para si mesma como para as mulheres em geral.

    Filme visto no Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2015.

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