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    Capitão América: Guerra Civil
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Capitão América: Guerra Civil

    Gregos e troianos, uni-vos

    por Renato Hermsdorff

    Contando, parece piada: um americano (vamos chamá-lo de Kevin Feige, CEO da Marvel Studios) resolveu colocar na mesma sala (leia “filme”) o Homem de Ferro, o Homem-Aranha e o Homem-Formiga. Qual o resultado? Muitas, mas muitas risadas. Não, Capitão América: Guerra Civil não é uma comédia e, paradoxalmente, trata-se da produção mais madura do universo cinematográfico da companhia até aqui.

    Antes, um lembrete aos fãs da cultuada série de HQ nas quais o filme é baseado. Não é de agora que as adaptações para o cinema dos quadrinhos (sobretudo da Marvel) se distanciaram das obras originais, seja por questões econômicas referentes aos direitos dos estúdios, seja por motivos contratuais (econômicos?) envolvendo os atores. O fato é que Civil War se distancia – e muito – do arco de sete revistinhas que contam o núcleo dessa história, mas se mantém fiel ao espírito do texto original. 

    Depois que o ataque de Ultron – e a defesa dos Vingadores, como consequência – deixou um rastro de destruição em Vingadores: Era de Ultron, os políticos resolveram que os super-heróis deveriam se registrar, como medida para conter possíveis futuros estragos envolvendo esse tipo de conflito em larga escala (e ter a quem responsabilizar em caso de erros). Steve Rogers (Chris Evans) é contra a medida (para ele, o anonimato é uma das condições que possibilitam que a turma realize um bom trabalho); já Tony Stark (Robert Downey Jr.) acredita que os heróis devem cooperar com o Estado. Com seguidores em ambos os lados, está armado o cenário para o confronto.

    O grande barato dessa trama é que não há um lado certo – mérito maior, portanto, do time de autores dos quadrinhos, encabeçado por Mark Millar. Cada um briga pelo ideal em que acredita, o que tira a pecha maniqueísta que costuma dominar o mundo ilustrado da luta do bem contra o mal. O ponto de partida – mantido no filme, embora muito menos explorado – credencia essa como a trama mais madura do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) até aqui. É um conflito de ideias (bom, até a página... três, pelo menos) antes de ser um embate pessoal.

    Mas trata-se de um enredo mais universal – e aqui entra o talento dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely –, já que a briga tem repercussão em diversos pontos da Terra – e não só em Nova York, Gotham ou Metrópolis (mesmo que o longa-metragem coloque o bairro do Queens no mesmo nível de importância de uma cidade como Berlim). Enquanto as HQ´s apresentam um início e fim muito claros, com um desenvolvimento um tanto repetitivo em termos de narrativa, há mais nuances no desenrolar do texto do filme que, inclusive, resgata o vilão Zemo (Daniel Brühl), de outros carnavais do Capitão América.

    Visualmente, a opção é por uma estética solar – outro ponto que distancia a Marvel da DC nos cinemas, aliás –, o que favorece uma melhor visualização das cenas de luta, tão (mais) bem coreografadas, quanto executadas. Ponto para os diretores Anthony e Joe Russo

    Com um filme-solo previsto para estrear em 2018, o Pantera Negra não só debuta, como ganha peso, claro. Chadwick Boseman dá conta da responsabilidade, adotando uma postura comprometida e um sotaque perfeito para o personagem originário da fictícia Wakanda. Mas, caso você esteja se perguntando, a resposta é sim, quem rouba a cena é o novo Homem-Aranha. A (re)introdução de um personagem já tão explorado nos cinemas veio a calhar com a versão teen do Cabeça de Teia (Tom Holland, no auge do carisma), que vai fazer com que você torça por (mais) uma aventura individual do rapazinho nos cinemas. Parte da santíssima trindade da Marvel da galhofa (ao lado do Homem de Ferro e do Homem-Formiga de Paul Rudd), a ele cabem os melhores diálogos.

    Tramas de super-heróis, em maior ou menor grau, pecam – necessariamente – pela falta de lógica científica (nem o mais experiente físico é capaz de defender as trajetórias que o escudo do Capitão América percorre) e a (re)introdução do Homem-Aranha como um herói de primeira viagem serve como uma autoironia para este universo – até uma autocrítica ao próprio roteiro, numa segunda análise. (Afinal, convenhamos, se o Visão, Paul Bettany, resolvesse entrar na briga pra valer, o confronto estaria fadado ao fiasco e, consequentemente, não haveria filme).

    No fim, a cumplicidade entre os heróis aqui é mais nítida do que em Vingadores 1 e 2 (não à toa, Capitão América: Guerra Civil vem sendo chamado de "Vingadores 2,5"), mesmo em um cenário que os coloca em lados opostos. E o resultado é não só divertido, como emocionante, palatável tanto para gregos, quanto troianos, ou seja, vale para iniciantes e fanboys.

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