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    Gênios do Crime
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Gênios do Crime

    Os tolos também amam

    por Bruno Carmelo

    A história real por trás dessa comédia é um surpreendente: em 1997, na Carolina do Norte, os funcionários de um banco, sem antecedentes criminais, foram responsáveis pelo segundo maior roubo da história dos Estados Unidos. A premissa poderia dar origem a uma trama elegante de assaltos geniais, em estilo Onze Homens e um Segredo, mas o diretor Jared Hess faz o contrário. Ele prefere mostrar que todos são pessoas ingênuas e que o roubo, de fato, esconde uma história de amor.

    A abordagem inusitada pode ser compreendida pela cinematografia do cineasta, conhecido pelo retrato de “perdedores” (nerds, feios, burros) na sociedade americana – caso de Napoleon Dynamite, Nacho Libre e Don Verdean. Hess transforma o assaltante real David Ghantt num pobre apaixonado pela colega de trabalho, Kelly. Os demais participantes do roubo são caipiras que sonham em tirar a sorte grande, justamente porque ninguém esperaria isso deles. A ignorância é transformada em qualidade: Ghantt é o único funcionário com a chave do cofre, por não ser considerado capaz de cometer nenhum crime.

    Gênios do Crime faz uma leitura irônica do sonho americano e, neste sentido, consegue ser tão divertido quanto comovente. O grande elenco cuida muito bem da parte humorística: no papel principal, Zach Galifianakis comprova o domínio no humor físico, enquanto Kristen Wiig combina traços de suas melhores personagens da série Saturday Night Live. Outros nomes do programa humorístico têm participações marcantes: Leslie Jones foge à personagem da “mulher negra do gueto”, que tem interpretado à exaustão, enquanto Kate McKinnon rouba a cena como a noiva cafona do protagonista.

    Para o roteiro, o dinheiro serve como desculpa para os personagens se unirem: David quer impressionar Kelly, esta deseja criar independência de Steve (Owen Wilson), e mesmo o matador de aluguel Mike McKinney (Jason Sudeikis) cria laços afetivos com sua vítima, num momento de bromance claramente homoafetivo. O roteiro faz do roubo uma prova de amor – o protagonista só consegue colocar o plano em prática quando Kelly decide ir com ele. O projeto se torna divertidamente amoral, por apostar na ilegalidade como elemento que dá um propósito de vida a um grupo de personagens entediados e ignorados pelo sistema.

    Ao combinar elementos da ação, comédia, romance e drama, Hess nunca perde de vista que está elaborando uma farsa. Portanto, as cenas de perseguição são devidamente ridículas, e o matador de aluguel nunca convence quanto à sua periculosidade. O roteiro demonstra afeto por todos os perdedores em cena, impedindo que qualquer um deles corra real perigo. Isso pode prejudicar a verossimilhança da história – é difícil acreditar que qualquer um deles realmente possa morrer nas mãos dos policiais – mas funciona dentro da estrutura da comédia de erros. O humor sobre interioranos burros e sobre as derivas do espírito americano pode não agradar todos os gostos, mas para quem aprecia diálogos irônicos comandados por alguns dos melhores humoristas americanos, Gênios do Crime é uma boa pedida.

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