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    Até que a Sorte nos Separe
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Até que a Sorte nos Separe

    Dinheiro fácil

    por Bruno Carmelo

    Até que a Sorte nos Separe é um filme sintomático. Mais do que ilustrar o modo Globo Filmes de produção, ele representa um certo tipo de humor burlesco e televisivo, frequentemente associado às crianças (Os Trapalhões vêm à mente), mas cada vez mais vendido ao público adulto. Trata-se do humor da caricatura, que exagera os mais famosos estereótipos sociais: gordos, nerds, gays, mulheres fáceis, femmes fatales etc.

    Este tipo de humor encontra a representação perfeita na imagem de Leandro Hassum, ator preso ao físico igualmente caricatural. Não por acaso, sua barriga saliente aparece no filme antes do seu rosto: Hassum não tem um físico, ele é este físico. Sua veia cômica se manifesta sempre nas formas do ator, e não nas possíveis formas de seus personagens. Assim, que ele esteja presente em Os Caras de Pau, em programas infantis ou em qualquer outra história, Leandro Hassum interpreta sempre Leandro Hassum.

    No caso, ele faz o sujeito que ganha na loteria, gasta todo o dinheiro mas precisa esconder a nova situação financeira, já que sua esposa está convenientemente passando por uma gravidez de risco. Está instaurada a farsa, e sua simples mecânica de opostos: os personagens são ricos ou pobres, gordos ou magros, frígidos ou loucos de tesão. Logicamente, como este é o mundo mágico de Globo Filmes, o estado de "pobreza extrema" em que se encontram os personagens é representado pelo trabalho em uma loja já bem instalada e lucrativa, recebida como presente de um tio bilionário. Santa miséria.

    Se o roteiro esquemático fosse o único problema de Até que a Sorte nos Separe, esta ainda poderia ser uma comédia tolamente divertida. Mas a parte técnica e as atuações beiram as piores esquetes de Zorra Total. A cena de abertura é tão precariamente montada, com uma iluminação tão ruim, que fica a nítida impressão de que Roberto Santucci tocou o projeto no piloto automático, com o mínimo esforço possível.

    Santucci, operário-padrão do cinema popular, que pode se dar ao luxo de lançar dois filmes em um ano só (De Pernas pro Ar 2 vem aí), mostra uma preocupação ínfima com a qualidade do seu produto, deixando as equipes técnicas comporem estéticas que não se completam, e liberando os atores a performances descontroladas, como é o caso novamente de Hassum. São tantas caras e bocas, gritos e chiliques, que cenas como a reação do marido à gravidez inesperada de sua esposa (Danielle Winits, esforçada) beiram o insuportável.

    A questão não é atacar os filmes da indústria, que são essenciais à sustentação da cinematografia brasileira, nem as adaptações de modelos televisivos, que já renderam crônicas sociais mais inteligentes. O problema é ver este cinema feito em esteira de produção, com cada trabalhador montando a peça de um produto sem conhecer o resultado final, sem a menor coesão ou coerência.

    Por fim, perdoa-se filmes amadores por terem técnicas amadoras, mas Até que a Sorte nos Separe captou milhões de reais do Governo Federal para entregar uma obra constrangedora, uma espécie de fast food em busca do lucro fácil, e que ainda tem a cara de pau de terminar com uma mensagem idealista do tipo "dinheiro não importa, o importante mesmo é ser amado". Haja paciência.

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