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    Paris-Manhattan
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Paris-Manhattan

    Ele merece mais

    por Francisco Russo

    77 anos, 44 filmes como diretor, outros 13 apenas como ator e pérolas do porte de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, A Rosa Púrpura do Cairo, Tiros na Broadway, Meia Noite em Paris e tantos outros. Woody Allen possui uma das carreiras mais ricas na história do cinema e, ainda na ativa, é considerado um mito da sétima arte. Não foi à toa que a diretora Sophie Lellouche – que não é parente de Claude Lelouch, apesar da semelhança de sobrenome – o escolheu como tema central de seu primeiro longa-metragem. Paris-Manhattan é um filme de devoção a Woody Allen, mas que não faz jus ao seu muso inspirador.

    A história até parte de uma premissa simpática. Alice (Alice Taglioni) é uma bela mulher que, para sua família, enfrenta um problema gravíssimo: é solteira e não tem qualquer pretendente a vista. Os pais volta e meia agem como cupido, para irritação da filha. Ela, por sua vez, possui uma imensa paixão por Woody Allen - não no sentido carnal, mas intelectual. Alice sabe de cor diálogos dos filmes por ele dirigidos e chega ao ponto de recomendá-los aos clientes de sua farmácia, como se fosse a cura para todos os males. Tem mais: ela possui em casa um imenso cartaz de Allen, com quem costuma, digamos, conversar.

    Diante de tamanha adoração, Paris-Manhattan prometia ser um filme que navegasse por alguns dos temas mais corriqueiros do universo do próprio Allen, como a neurose dos dias atuais e as dificuldades nos relacionamentos. Entretanto, o que se vê nas telas é um filme banal que parte da ideia da exigência de um relacionamento, como se fosse impossível ser feliz sem ter alguém ao seu lado, e que deixa de lado o que há de mais interessante, que é justamente o lado intelectualizado do diretor, para apostar em desencontros tolos do casal principal. A diretora aparenta estar mais interessada em Woody Allen como figura emblemática do que propriamente no que ele e seu cinema significam, o que é um tremendo contrassenso para um filme que se dispõe a ressaltar a qualidade de um diretor ao ponto dele se tornar influência para a vida de alguém.

    O que acaba segurando o longa-metragem é o próprio Woody Allen. Ao longo da história ele surge apenas como uma voz em off, soltando tiradas espirituosas típicas de seu repertório nos momentos em que Alice conversa com o cartaz do diretor em seu quarto – em diálogos nem sempre bem encaixados dentro da história como um todo. Entretanto, já na reta final do longa-metragem o próprio Allen surge, em carne e osso, numa sequência bem humorada onde o diretor entra no espírito da devoção e assume sua importância para a fã de forma bem simpática. É o único momento em que o filme alcança o que pretendia ser, agradando em cheio aos fãs. Entretanto, por sua história e importância para a sétima arte, Paris-Manhattan fica longe de ser uma homenagem digna. Woody Allen merece bem mais.

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