As escolhas deste grande quebra-cabeça
Tudo bem que gosto de ir ao cinema sozinho. Mas é justamente em longas como “360”, do diretor brasileiro Fernando Meirelles, que eu preciso de uma companhia pra poder compartilhar de imediato todo aquele furacão de informações em poucas horas numa sala de cinema. E tem época da sua vida também que parece que aquele filme foi desenhado de presente pra você. Tá, vou tentar me explicar.
Fui de supetão ao cinema no último fim de semana e vi, lá mesmo, naquele pôster grandão, que o novo filme do diretor de “Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel” e “Ensaio sobre a Cegueira” era uma boa opção para o domingo frio e solitário. E eis que vem a seguinte frase na primeira cena: “Um sábio disse uma vez, se existe uma bifurcação na estrada, siga-a. Ele só esqueceu de avisar que caminho escolher”. Ali mesmo eu já percebia o mato que iria lenhar. Eu tinha acabado de ler um texto na internet sobre destino, escolhas, encontros e desencontros que a vida nos dá, refletido em que a felicidade está nas pequenas coisas e na forma como vivemos o presente, e eu já recebia aquela chacoalhada logo de cara.
E, de uma maneira bem leve, com decisões e histórias de personagens de várias partes do mundo que se entrelaçam em aeroportos e quartos de hotel, o quebra-cabeça de Meirelles ia se formando e a minha cabeça, como uma flecha, viajando nas escolhas que sempre fazemos nas nossas vidas. Que rumo tomar? O que fazer? Pra onde eu vou? Com quem vou ficar? Uma pequena, mas eminente decisão naquele exato momento pode mudar todo o rumo de sua vida e não há destino indefinido que possa te segurar.
É assim com a sua vida e também com as dos personagens de Jude Law, Rachel Weisz, Ben Foster, Anthony Hopkins e... dos brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. Oi??? Mas eu levei um tremendo de um susto quando eu vi a Aline, do seriado, e o Adauto, de “Avenida Brasil”, gastando todo o inglês e levando seus talentos para o mundo graças ao diretor conterrâneo. A minha surpresa só não foi maior do que a de uma doninha simpática na minha frente, que dizia, assustada: “Oh, gente! Mas num é aquele moço namorado da Muricy?”. E a outra menina do lado: “Aquela ali também é brasileira, olha”. A minha vontade era cutucar nas duas, apontar os nomes dos atores que já estavam na ponta da minha língua, e papear, naquele minuto mesmo, sobre como eles estavam arrebentando em atuações afiadas e em participações bem grandinhas.
Saí do cinema com a cabeça fervilhando e ninguém pra comentar nada. Nem sobre a grata surpresa de ver dois globais encenando com feras hollywoodianas nem sobre a frase de Maria Flor que continua martelando aqui até agora: “Vivemos apenas uma vez. Quantas chances ainda temos?”. Me restou escrever. Pois, na verdade, não há o que comentar. Precisamos mesmo é fazer acontecer e estarmos sempre preparados para esses giros de 90, 180 e 360 graus fascinantes da vida que insistem em aparecer.