Visceral...
Já renomados e aclamados pelo público e crítica, o ator Leonardo diCaprio e o diretor Alejandro González Iñárritu sempre são indícios de que coisa boa existe quando há a participação de cada um, porém, quando a dupla se une para criar algo para as telinhas, o resultado é nada menos que primoroso.
O Regresso, que concedeu o Oscar a ambos em 2016, é baseado em uma ocorrência real. Em 1822, Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), junto com seu filho partem para o oeste americano para caçar animais selvagens e extrair suas valiosas peles. Embora com um grupo bem preparado e em grande quantidade, eles são atacados e durante a fuga, Glass é atacado por um urso cinzento, que faz tal ato na tentativa de proteger seus dois filhotes. Gravemente ferido em consequência do ataque, o protagonista fica sob os cuidados do filho e do antagonista John Fitzgerald (Tom Hardy), este último responsável por deixá-lo para morrer no frio intenso e praticamente imóvel devido aos recentes ferimentos. Sem alimento, tremendamente machucado e com um desejo irrefreável de vingança, Glass dá início ao seu impressionante regresso.
Apesar da história de vingança não ser nem de longe original, a forma como é contada, incluindo aí os aspectos técnicos é que fazem o filme brilhar. A começar pelo ataque da mãe urso, a sensação que se tem é que o ator Leonardo diCaprio está realmente sendo atacado pelo animal, haja vista a impressionante perícia técnica na gravação da cena, desde a composição do mamífero até seu comportamento de defesa, como respiração, gestos, forma de ataque e tudo que realça a certeira tentativa de criar veracidade na cena, ainda mais impecável por ter sido gravada em único plano sequência. A geografia do ambiente pelo qual Glass passa em sua "caçada" é geralmente formada por grandiosas montanhas geladas, com muitas árvores e diversos perigos, fazendo seu percurso ainda mais dificultado pela lenta recuperação dos ferimentos. O diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, parceiro habitual de Inarritu, usa e abusa de sua capacidades profissionais para captar planos belíssimos, passeando pelo festival de árvores, rios, nuvens e o glorioso sol para compor planos únicos e dotados de maestria técnica.
Há de se destacar, evidentemente, o bom uso do maravilhoso elenco. DiCaprio faz jus ao que foi alardeado pela empresa à época de lançamento do filme, sua interpretação é nitidamente soberba, demonstrando suas frustrações, raiva, esperança e todos os sentimentos possíveis através de olhares e expressões faciais, entregando-se de corpo e alma a seu personagem, algo notável; Hard também faz um vilão que chama a atenção pela total falta de escrúpulos e preocupação com o próximo, principalmente porque seu passado realça elementos que o fazem agir de tal forma, deixando-o não somente como mais um na fila vilanesca.
O REGRESSO adiciona ao cinema mais do que uma produção em sua lista milionária, mas um filme rico em conteúdo técnico, dotado da competência evidente dos envolvidos nesta pérola que representa com grande avidez a 7ª arte. O protagonista e seu personagem são resultados de uma valiosa entrega artística e a satisfação de terminar um filme dessa natureza é simplesmente graciosa.