Vou falar uma coisa: os únicos filmes de horror que me causam forte impressão mesmo depois que termino de assistir, são filmes relacionados a satanismo e capetices em geral, mas veja bem, têm que ser bem arquitetado e produzido, pra me assustar. Pois no caso de Devil, não ficamos só apreensivos temendo pela vida dos inocentes envolvidos, mas ficamos realmente apavorados com a manifestação do chifrudo, a forma como é representado. E neste filme, a personificação do mal está impressionante, coisa que não vejo há anos.O último filme em que o vermelhão me assustou só com a sua presença, foi a versão original da profecia. Pois freqüentemente, me empolgo com filmes de horror, fico tenso, temo pela vida dos personagens, mas não me apavoro com os vilões, mas em filmes como Devil, a história é outra.Podemos ver mil e um filmes de assassinato, zumbis, monstros, mutantes, serial-killers, mas nenhum deles “cola” na nossa cabeça como o coisa-ruim, pois desde criança, somos mergulhados na “cultura religiosa”, onde tudo é bem definido: o bel e o mal, os bons e os ruins, o crime e o castigo. Portanto, a maldade está dentro das nossas crenças desde que nos lembramos por gente; naturalmente, nos assusta mais um filme de horror que tem como personagem principal, a personificação daquilo que tememos pela vida inteira, ainda mais se for bem mostrado, descrito, exposto na tela.Devil é um filme às antigas, na minha opinião; filme que deixa a gente com um “medinho” de andar sozinho dentro de casa no escuro, logo depois de assistir. Pois falo ,e repito: psicopatas, canibais, vampiros, nada disso faz parte do nosso subconsciente e nos apavora na vida real, mas a manifestação do mal, sim.Devil, é um filme assim: fala daquilo que sabemos que existe, mas nunca vimos realmente, e só esta idéia de usar de um personagem que vive em nosso imaginário coletivo, e transportá-lo de forma assustadora para a tela, já é o suficiente para fazer com que Devil atraia e ao mesmo tempo cause repulsa em nós; a moral do filme, eu digo, e não é spoiler: é culpa. A culpa nos faz com que tornemos escravos do mal. O filme, no fundo, fala de algo que as igrejas nos ensinaram a vida toda: a importância do arrependimento. Falo isso sem ser estraga-prazeres, pois só mesmo no final do filme, as pessoas entendem o que estou dizendo agora.Não é um simples filme pra “descobrir quem é o assassino”, isso é muito medíocre pra referir-se a Devil. No desenrolar da trama, ficamos confusos, vemos reviravoltas incríveis, tudo através dos acontecimentos e diálogos FORA do elevador. A personalidade e vida de cada um dos que estão presos, é destrinchada e explicada pra nós e pro investigador, nos fazendo mudar de direção o tempo todo nos pensamentos, e quando o foco vai pro elevador, é pura tensão. Cada vez que as luzes do fosso apagavam, eu ficava tenso, imóvel, nem conseguia dar um trago no meu cigarro.Shyamalan agora, voltou a ser meu produtor top de linha preferido, fazendo um filme genuinamente de horror; não horror com tortura, mutilação, cenas nojentas; mas horror na sua essência: o mal como centro da história.