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    Gran Torino
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Gran Torino

    Grrrrrrrrrrrr!!!!!!!!

    por Francisco Russo

    Um cachorro, ao se sentir incomodado, rosna. Não se trata de atacar algo ou alguém, mas demonstrar o seu descontentamento perante algo e, de certa forma, alertar quem está por perto do perigo que corre. Walt Kowalski, personagem de Clint Eastwood em Gran Torino, é assim. Seu rosnado não é só uma marca registrada, deliciosamente usada no decorrer do filme, mas uma mostra do quanto o mundo à sua volta o incomoda. De parentes a vizinhos, são poucos os que escapam de sua fúria irascível. Seu modo de ser e a vivência o transformaram em alguém preconceituoso e materialista, que afugenta os demais pela sua própria postura. Walt é solitário por opção, vítima e algoz de sua própria intolerância.

    À primeira vista um personagem do tipo pode ser considerado recorrente na carreira de Clint Eastwood. Um tipo durão, estilo Dirty Harry ou o protagonista da trilogia que fez com o diretor Sergio Leone, só que com mais idade. Ele é isto, mas não apenas isto. A beleza de Gran Torino está justamente na subversão do clichê que apresenta de início. A arrogância de Walt passa a ser encarada sob outro enfoque quando ele toma uma atitude absolutamente normal para alguém com seus princípios morais, ao enfrentar uma gangue. Seu espanto não é propriamente pela consequência de seu ato, mas por ter gerado alguma consequência. Afinal de contas, sob sua ótica, não fizera nada de mais, nada além de sua obrigação como ser humano. E neste ponto entra uma importante questão, válida especialmente nos dias atuais: o que você faz é tão especial assim ou apenas ganha esta importância pelo fato de que ninguém mais faz? Independente da resposta, fato é que Walt passa a ser endeusado pela comunidade, o que não lhe agrada nem um pouco.

    O personagem carrancudo torna-se agora prisioneiro de seu ato, sendo obrigado a lidar com situações às quais sempre buscou se afastar. Seu rosnado não mais afugenta, pelo contrário, é visto como traço de personalidade. Forçado a conviver com o oposto, pouco a pouco aprende a respeitá-lo. Aquele personagem durão de início não amolece, mas passa a se importar com aqueles os quais antes desprezava. Uma mudança de postura que traz à tona outro tema fundamental: a tolerância. Numa época em que o diferente é rejeitado de imediato, Gran Torino mostra que é possível mudar quando se tenta, nem que seja por obrigação.

    Em uma história como esta, repleta de mensagens subliminares, o final mantém o nível. E é este o ponto que melhor o diferencia dos filmes anteriores em que Clint interpreta personagens durões, pelo uso da razão em detrimento de um desfecho apoteótico. Não que isto deixe de ocorrer, mas de uma maneira inesperada. Muito bom filme, que mantém a qualidade demonstrada pelo Eastwood diretor nos últimos anos.

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