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    O Gato do Rabino
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    O Gato do Rabino

    Todas as crenças

    por Bruno Carmelo

    Como o próprio gato diz na introdução, ele nunca ganhou um nome. Sempre foi "o gato do Rabino". Este dado mostra a grande importância que terá neste filme não apenas o seu dono, mas a questão do respeito à autoridade religiosa. Situando sua história em uma Argélia predominantemente muçulmana, mas em uma cidade judia, e com a influência católica francesa, a produção lança desde o início o seu discurso sobre a pluralidade das crenças.

    O cartaz brasileiro indica que se trata de uma fábula de tolerância, o que pode dar a (má) impressão de que este seria um filme moralista, politicamente correto. Felizmente, exceto uma ou duas cenas mais explicativas, a história evita o tom conciliador e prefere o humor irônico, representado pelo protagonista, o gato.

    Com a voz original de François Morel, este personagem é o maior trunfo do filme: apesar dos traços esquemáticos do seu desenho, pouco propícios à expressão de emoções complexas, o ator consegue conferir uma malícia e um cinismo divertidíssimos, que combinam muito bem com o texto sarcástico. Mais do que isso, este gato do rabino é um cético, questionador, ou seja, uma figura perfeita do "outro", da diferença com a qual a comunidade judaica deve lidar.

    Se a história não é moralista, ela também não evita certa inconsistência, pelo fato de sempre termos novos personagens introduzidos na história, em uma aventura pela África que parece não ter um destino muito certo. O final abrupto confirma esta impressão de que o interesse do filme era apenas de seguir os personagens, tratá-los em pequenos episódios, como se as histórias em quadrinho originais tivessem sido coladas uma após a outra. A trama não evolui, os personagens também não, mas apesar da heterogeneidade, eles conseguem espelhar a multiplicidade de pontos de vista e de crenças.

    Por fim, fica a impressão de uma animação divertida, inteligente, que funciona melhor como discurso do que como história. O destaque vai para as eventuais cenas de delírio ou pesadelo do gato, quando o diretor consegue enfim se livrar das amarras da verossimilhança e explorar o traço simples do seu desenho para criar um mundo fantástico e bastante criativo.

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