João Karlos
Filmes
Séries
Programas
Voltar
3,0
Enviada em 4 de outubro de 2021
Os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais lançados recentemente na plataforma Amazon Prime Video, contam, respectivamente, a versão de Daniel Cravinhos e a de Suzane Von Richthofen sobre o midiático caso do assassinato do casal Von Richthofen.

Eu, particularmente, achei exagero fazer dois filmes sob os diferentes pontos de vista dos protagonistas. Tudo isso poderia ser apresentado num único longa dividido em duas partes. Mas, enfim, não deixa de ser algo diferente e interessante... um tanto quanto pretensioso, mas interessante.

A Menina que Matou os Pais, versão de Daniel Cravinhos, nos apresenta Suzane Von Richthofen como uma adolescente problemática que, no decorrer da trama, se converte numa mulher fria, egoísta e manipuladora que convence os Cravinhos a assassinar seus pais. Já O Menino que Matou Meus Pai, que conta a versão de Susane, inverte os papéis e nos apresenta Daniel como alguém ambicioso e inescrupuloso que seduziu uma ingênua garota rica e a manipulou para que o ajudasse a executar seus pais.

O legal dos filmes é que ambos contam a mesma história, porém, sob perspectivas diferentes e cada qual parece tentar nos convencer a crer em sua versão. Mas, a meu ver, pouco importa quem está certo. Os longas não estão realmente interessados nisso. A questão implícita aqui é que em 2018 Susane foi diagnosticada com psicopatia e este é um transtorno de personalidade ainda misterioso que, ao que se sabe, não existe causa, é algo difícil de se diagnosticar e nada impede que qualquer um possa nascer como portador desse terrível mal. A sociedade não se questiona muito quando um destes bandidos convencionais (negro, feio, favelado...) é declarado como psicopata, afinal, nada mais natural para o senso comum... Mas quando uma garota atraente advinda da alta classe é tachada assim, isso causa espanto e requer explicações e racionalizações mais fáceis de engolir.

Não dá pra simplesmente aceitar que uma meninas linda e bem nascida pode ser uma psicopata (ainda que a ciência afirme isso), é preciso teorizar sobre o por quê. Daí surge convenientemente os filmes para apresentar sugestões clichês: relacionamentos tóxicos; drogas (em cada versão, o protagonista tenta convencer que o outro lhe induziu ao consumo de drogas através do uso da maconha, tida pelas autoridades brasileiras como a porta de entrada para os demais entorpecentes); abuso sexual infantil (Em A Menina que Matou os Pais, Daniel alega que Susane lhe confessou que seu pai lhe molestava frequentemente durante toda a infância); família disfuncional (ainda no mesmo longa, Daniel alega que Susane lhe confidenciou a infidelidade de ambos os pais, a mãe tinha uma relação lésbica extraconjugal com outra mulher e o pai traia sua mãe com prostitutas)... Tudo é apresentado de forma sutil e sugestivo.

Portanto, saber qual das versões convence mais é irrelevante, o que importa é fixarmos em nosso subconsciente que males como a psicopatia, sociopatia, pedofilia e tantos outros são resultados de causas evitáveis aleatórias (dessas que o brasileiro insiste em acreditar que só acontecem aos outros por que estes não rezam ou oram e não creem em Deus o suficiente).