Roberto O.
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4,5
Enviada em 25 de dezembro de 2016
Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, a República foi passada para trás pelo Império que, após tomar o poder, instaura o terror por toda parte com seus métodos opressores e seu arsenal bélico amedrontador. Porém, um grupo de ‘subversivos’ ao regime fascista forma a Aliança Rebelde, com a qual fazem frente ao inimigo, por mais que as probabilidades de sucesso nas empreitadas estejam contra eles. É quando as estratégias de guerra falam mais alto, o que inclui espionagem, sabotagem e, claro, os inevitáveis confrontos armados nas frentes de batalha. Além de laços familiares e de amizades duradouras, outro item que também os motiva é a fé de que a Força está com eles. Palavras semelhantes a essas bem que poderiam aparecer no início de Rogue One – Uma História Star Wars, naquele clássico formato de letreiros que parecem flutuar no espaço, subindo em diagonal até que os percamos de vista. As quatro primeiras frases que abrem esta crítica contextualizam, basicamente, não só o momento em que se passa este longa, derivado da franquia principal, como também ecoa um dos temas que sempre permearam toda a série criada por George Lucas – cujo primeiro filme foi lançado em 1977 – a luta dos oprimidos pela queda de um governo ditador, tema que parece não ter perdido a sua contemporaneidade na vida real mundo afora.
Em relação ao tom da série, embora alguns momentos violentos e dramáticos se façam notar ao longo dos sete episódios lançados até agora, o clima predominante sempre foi o de aventura juvenil (exceto, talvez, pelo Episódio III). Aqui, a atmosfera é diferente, e a fórmula é invertida, com a história investindo a maior parte de seu tempo em um clima tenso e angustiante, levemente aliviado por algumas poucas cenas de descontração. Esse aspecto do filme, por si só, já torna a experiência de assisti-lo muito mais interessante. Para quem se decepcionou com as infantilidades do Episódio I, lançado em 1999, Rogue One faz o contraponto ideal, e confirma o quão séria a saga Star Wars pode ser, bastando para isso uma história bem contada, acertando o tom.
Em clima de conflito espacial muito mais denso, portanto, conhecemos Jyn, filha de Galen, um engenheiro ‘convidado’ pelo Império para construir a temível Estrela da Morte. Após uma série de eventos, ela se une aos rebeldes, ainda que não tenha se convencido por completo a lutar pela causa. O que ela quer é resgatar seu pai. Contudo, à medida que a trama ganha novos contornos, Jyn e seus companheiros terão uma missão ainda mais difícil pela frente: roubar do Império os arquivos com informações vitais que mostram como os rebeldes poderão destruir a colossal arma planetária, fato que já vimos se consumar no final do Episódio IV. A grande sacada do roteiro, escrito por Chris Weitz e Tony Gilroy, foi se preocupar em mostrar o lado ‘sujo’ e nem um pouco glamoroso dessa guerra espacial, indo na contramão do que até então tinha sido visto nos filmes anteriores da saga, em que eram priorizados os acontecimentos mais heroicos envolvendo a família Skywalker e seus amigos. Esse primeiro grande filme derivado da série ‘invade’ sem cerimônia o cultuado território pavimentado por Star Wars, e o título Rogue One (algo como “primeiro intruso”) faz referência a isso. Embora arriscada, a iniciativa de apostar em uma narrativa diferente ambientada na mesma galáxia distante que já conhecemos de longa data se mostrou muito bem-sucedida.
Se há um ponto fraco a ser observado nesta produção, contudo, ele diz respeito aos seus personagens (mas não ao elenco). A condutora da história, Jyn, vivida por Felicity Jones (indicada ao Oscar em 2015 por A Teoria de Tudo) nem chega perto de rivalizar em carisma com a Princesa Léia, ou sequer com Rey, que conhecemos ano passado no Episódio VII. Mas em defesa da personagem pode ser dito que ela não é da ‘família da Força’, nem descendente de algum jedi. Ou seja, ela é uma militante rebelde que desempenha muito bem seu papel na proposta do filme. Em outras palavras, ela não foi pensada para ser carismática. O mesmo vale para seu pai, Galen (Mads Mikkelsen), bem como para os demais personagens, por mais melancólico que isso soe. Lembremos do tom mais sério que este filme faz questão de manter em quase todo o tempo, e dos riscos da missão que a tropa se propõe a cumprir, cujas consequências não são difíceis de imaginar…
A equipe, que se intitula Rogue One, é formada também pelo amargurado guerrilheiro Cassian (o ator mexicano Diego Luna), o ‘samurai’ religioso cego Chirrut e seu companheiro de batalhas Baze (vividos pelos chineses Donnie Yen e Jiang Wen) e o piloto do Império ressentido Rook (Riz Ahmed, descendente de paquistaneses). Percebe-se, portanto, a muito bem-vinda miscigenação do elenco que, em conjunto, acaba funcionando satisfatoriamente. Há ainda o sarcástico, e bem sacado, dróide K-2S0 (voz de Alan Tudik), Saw Gerrera, o rebelde ‘extremista’ e quase um ciborgue (Forest Whitaker), e o principal antagonista, o oficial do Império Orson (Ben Mendelsohn). A despeito da (quase) total ausência de rostos conhecidos, ao menos um personagem do longa todos conhecem, e é justamente aquele personagem. A tão alardeada participação de Lord Darth Vader (voz de Sir James Earl Jones) oferece ao público o fã-service que se esperava. Destaque para sua sombria ‘morada’, nunca antes mostrada na tela grande, que curiosamente remete a uma certa torre da Terra Média! E quando ele surge em outro momento do longa, de forma inesperada, e extremamente ameaçador, sua aparição é mesmo de arrepiar, na qual ele se mostra a maldade em pessoa, evidenciando porque é considerado por muitos como simplesmente o maior vilão de toda a história do cinema.
Além da ilustríssima presença do detentor do “lado negro da Força”, uma avalanche de referências transbordam neste filme, da primeira à última cena, escancarando a dedicação e o prazer do diretor Gareth Edwards (do Godzilla de 2014) em realizar esta obra que será muito mais saboreada por quem é fã da saga. É impressionante como a ambientação nos faz acreditar que, a qualquer momento, poderemos ‘esbarrar’ na tela com alguém que já conhecemos. Seja por meio de personagens digitalmente reconstruídos, ou mesmo em live action, seja pelos cenários maravilhosamente reproduzidos, ou ainda pelas sequências de batalha que remetem a momentos clássicos da franquia que ficaram na memória de quem já os viu, Rogue One é, além de um belo filme, uma linda declaração de amor a essa série cinematográfica que há 40 anos fascina o mundo. A trilha de Michael Giacchino, reproduzindo sem muitas alterações os acordes originais do mago John Williams, só reforça a sensação de nostalgia.

Quem, porventura, nunca viu um filme de Star Wars, e quiser começar com esta produção paralela, poderá se espantar um pouco com o seu tom à la Apocalypse Now (do qual o diretor afirma também ter se inspirado), mas irremediavelmente vai querer conhecer os demais exemplares, e o ‘risco’ de se contagiar com o irresistível clima de ficção-científica-aventura-fantasia é muito grande! Com o Episódio VII, lançado ano passado, a franquia Star Wars voltou a ficar em evidência. Este ano, Rogue One nos traz a ação de pessoas ‘comuns’ que também se mostram de extrema importância para que o ‘equilíbrio da Força’ seja mantido. Em Dezembro de 2017, o Episódio VIII estará chegando às telonas, continuando a jornada de Rey e do clã Skywalker. Tem ainda o filme solo de Han Solo (!), em 2018 e o Episódio IX em 2019. Como é bom assistir e sentir o quanto essa franquia tem força!