A "brincadeira" que custou 1 milhão de reais à Globo: Um dos momentos mais lamentáveis da TV brasileira aconteceu há 28 anos
    Ana Pilato
    Ana Pilato
    Fanática por filmes e séries, Ana possui um acervo de informações aleatórias sobre cultura pop e gosta de encarar câmeras imaginárias como se estivesse em Fleabag ou The Office.

    Domingão do Faustão teve um momento absurdo em 1996.

    TV Globo

    A disputa pela audiência entre as emissoras de TV sempre foi um tema recorrente, mas, em 1996, essa competição gerou um dos episódios mais controversos da história da televisão brasileira. Para se ter uma ideia, esse acontecimento custou à TV Globo uma multa milionária e culminou até mesmo na criação de um novo código de ética!

    Tudo começou durante uma edição do Domingão do Faustão, quando a Globo buscava conter a audiência crescente do Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato no SBT. Na época, o duelo pela atenção do público aos domingos era intenso, e a equipe de Fausto Silva decidiu colocar em prática um plano para se destacar e alavancar o Ibope.

    Então, no dia 8 de setembro daquele ano, o programa recebeu o capixaba Rafael Pereira dos Santos, um jovem de 15 anos com síndrome de Seckel, uma rara condição genética que causa nanismo, microcefalia e limitações físicas e intelectuais. Em razão da síndrome, Rafael tinha apenas 87 centímetros de altura e 8 quilos, e sua presença foi explorada de forma lamentável.

    TV Globo

    O rapaz chegou caracterizado como Latino, um dos convidados do programa naquele fatídico dia. Após uma sequência de piadas de mau gosto, o cantor e o menino se juntaram para cantar a música "Louca" no palco – na verdade, só Latino cantou, enquanto o "Latininho" ficou exposto a uma situação vexatória em rede nacional.

    Depois da constrangedora apresentação musical, Fausto ainda chamou ao palco o grupo Café com Bobagem e o humorista César Macedo – o Seu Eugênio da Escolinha do Professor Raimundo –, agravando toda a situação. A cada fala, Rafael era ridicularizado, tornando-se alvo de risadas e humilhações, sem entender o que acontecia.

    O momento apelativo atingiu 30 pontos de audiência, mas o programa, como era de se esperar, recebeu duras críticas do público e da imprensa nos dias seguintes, e a Globo não saiu impune. Por conta da exploração e da humilhação, a emissora foi condenada a pagar uma indenização de 1 milhão de reais ao garoto e sua família.

    Além disso, o caso foi um dos motivos que levaram o programa a adotar um novo Código de Ética, conforme reportado pela Folha de S. Paulo em 1999. Entre as diretrizes estava o veto à "transformação em espetáculo do erótico, do pornográfico, do bizarro, da tragédia e da miséria humanas" e o compromisso com o bom gosto e o bom senso.

    "Fui pego de surpresa": cantor Latino se pronunciou

    Latino nunca havia se pronunciado publicamente sobre isso até 2021, quando, em uma participação no programa A Noite é Nossa, da Record, ele afirmou que não sabia das humilhações que aconteceriam naquele dia. "Eu estava ali fazendo meu papel de cantar, dançar, levar alegria para as pessoas, e de repente estava rolando essa pauta desse fã mirim", disse.

    Eu estava achando que era uma criança, também fui pego de surpresa. Quando fui ver, estava na capa da Veja, junto com o Fausto, envolvido em uma polêmica que eu, de fato, não tinha nada a ver

    O artista se referiu a uma edição da revista Veja publicada após o caso de Latininho, cuja capa apresentava uma imagem de Fausto segurando a mão de Rafael no palco do programa, acompanhada do título "Mundo cão na TV: Até onde vai a apelação?".

    Na audiência do processo judicial, Carlos Manga e Deudedit Pires Costa, diretores do Domingão, puderam optar pela suspensão do processo por dois anos, mas negaram: "Sou inocente. Se eu aceitasse, pareceria uma solução arranjada", afirmou Manga ao deixar o tribunal, conforme relatado pela Folha de S. Paulo. O apresentador Fausto Silva e o também diretor Jayme Praça não compareceram à audiência na época.

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