Minha conta
    Dia da Consciência Negra: 20 filmes importantes realizados por cineastas negros

    Dos nomes consagrados aos pioneiros menos conhecidos, o AdoroCinema celebra diretores que ajudam a compor representações mais plurais na sétima arte.

    No dia 20 de novembro se celebra no Brasil o Dia da Consciência Negra, data instituída para aprofundar as discussões sobre raça em um país que ainda carrega traços de uma sociedade escravagista e profundamente racista. Na vasta miríade de debates que envolvem a questão está o ponto da representação. Uma maneira de enfrentar séculos de estereótipos e preconceitos é propor inversões nos discursos dominantes e a cultura ocupa um local importantíssimo neste caso. 

    Quando cineastas negros no Brasil e no mundo assumem o controle da narrativa, o resultado é um cinema mais plural, mais honesto e mais condizente com a ampla gama de temas que compõem a experiência humana. Ainda há um grande caminho em busca da igualdade. No Brasil, por exemplo, apenas 2% dos filmes nacionais de maior sucesso nas bilheterias entre 2002 e 2014 foram dirigidos por homens negros, segundo estudo. As diretoras mulheres não realizaram nenhum. Paralelamente, pretos e pardos, definidos como negros pelo IBGE, compõem 53,6% da população do país.

    Em Hollywood há um pouco mais de visibilidade para realizadores negros, mas ainda assim há muito o que ser feito. Nenhum diretor negro ganhou um Oscar por seu trabaho como cineasta ou levou para casa uma Palma de Ouro em Cannes ou mesmo um Globo de Ouro em sua categoria. 

    Sendo assim, o AdoroCinema aproveita a data para celebrar a produção dos mais diferentes cineastas negros do mundo, donos de estilos, expressões cinematográficas e carreiras de portes distintos uns dos outros (vide o slideshow no início desta notícia).

    A lista abre espaço para filmes assinados nomes consagrados como Spike Lee e também de obras produzidas por jovens e talentosos cineastas brasileiros como André Novais Oliveira. Há menções a trabalhos pioneiros (e obscuros) e filmes celebrados no mainstream. Citamos de obras contemporâneas como Moonlight - Sob a Luz do Luar12 Anos de EscravidãoCorra! aos clássicos do cinema do continente africano.

    Vale ressaltar que não tratamos aqui de querer encontrar e categorizar um utópico e monolítico "cinema negro", afinal, não usamos o termo "cinema branco" para se referir à produções feitas por brancos no Brasil, Europa, Estados Unidos e afins. A lista conta com filmes que, inclusive, não tem o racismo como tema principal, mostrando que a experiência de cineastas negros não pode ou deve ser limitada a isso, e deve incluir outras idiossincrasias do espírito humano como objeto de análise.

    Lembrou de algum outro filme importante dirigido por negros? Conte nos comentários.

    Selma - Uma Luta Pela Igualdade (EUA, Reino Unido, França, 2014)

    Dirigido por Ava DuVernaySelma - Uma Luta Pela Igualdade (2014) apresenta um emocionante retrato da vida do ativista e pastor batista Martin Luther King, interpretado por David Oyelowo. A qualidade do trabalho de DuVernay a tornou a primeira mulher negra a dirigir um longa indicado ao Oscar de melhor filme e ao Globo de Ouro de melhor filme - drama.

    Faça a Coisa Certa (EUA, 1989)

    Com um roteiro afiadíssimo e uma direção cheia de identidade, Spike Lee realizou o melhor trabalho de sua carreira em Faça a Coisa Certa (1989). Como toda boa obra de arte, o longa inspirou muitos debates com seus comentários sobre as relações raciais nos Estados Unidos. Concorreu à Palma de Ouro em Cannes e à dois prêmios no Oscar. Graças a este filme, Malcolm X e tantos outros, Lee se tornou um dos cineastas afro-americanos mais celebrados de sua geração.

    12 Anos de Escravidão (EUA, Reino Unido, 2013)

    Com um olhar duro e impetuoso para a história real de um homem negro livre que foi forçado a viver como escravo, 12 Anos de Escravidão (2013) foi um grande êxito na carreira de Steve McQueen. Os horrores da escravidão foram retratados de forma intensa pela câmera do britânico que se tornou o primeiro realizador negro a comandar uma produção vencedora do Oscar de melhor filme.

    O Matador de Ovelhas (EUA, 1978)

    Pérola do cinema americano inspirada no neorrealismo italiano, O Matador de Ovelhas (1978) evoca a estética documental para registrar o cotidiano de um homem negro triste na periferia de Los Angeles. O pioneiro Charles Burnett gastou apenas US$ 5 mil para produzir o filme que foi premiado no Festival de Berlim e aclamado no Festival de Toronto.

    Corra! (EUA, 2017)

    Primeiro lugar no ranking dos melhores filmes de terror de todos os tempos no Rotten TomatoesCorra! (2017) é um verdadeiro clássico moderno sobre a falácia de uma América pós-racial. Com um tom satírico inesquecível e repleto de alegorias é uma crítica social visceral e paranóica que entretem e faz pensar. Com uma receita de US$ 253, o filme fez de Jordan Peele o diretor estreante que mais arrecadou nas bilheterias em seu primeiro trabalho.

    Moonlight: Sob a Luz do Luar (Estados Unidos, 2016)

    Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) cruza questões de sexualidade, masculinidade, raça e classe para narrar a trajetória emocional de um homem em busca de respostas para as questões mais íntimas sobre si mesmo. Repleto de poesia, o longa de Barry Jenkins é dotado de uma beleza ímpar. Moonlight foi o primeiro longa com apenas negros no elenco a ganhar o Oscar de melhor filme.

    Os Donos da Rua (Estados Unidos, 1991)

    Os Donos da Rua (1991) traz Cuba Gooding Jr.Ice CubeLaurence Fishburne em um prisma sobre os arquétipos masculinos do gueto de Los Angeles. John Singleton se tornou o cineasta mais jovem e o primeiro realizador negro a ser indicado ao prêmio de melhor diretor no Oscar por seu trabalho neste filme.

    Shaft (EUA, 1971)

    Lançado no auge do movimento Black Power, Shaft (1971) foi o mais conhecido exemplar de um filme da blaxploitation. O subgênero cinematográfico venerado por nomes como Tarantino foi responsável por expandir as fronteiras de como negros poderiam ser representados na sétima arte. Com direção de Gordon Parks, o longa conta com uma envolvente e premiada trilha sonora composta por Isaac Hayes.

    Filhas do Pó (EUA, 1993)

    Entre as décadas de 1960 e 1980, alunos negros de cinema Universidade da Califórnia formaram o movimento L.A. Rebellion, uma resposta ao cinema canônico e branco de Hollywood. Entre os principais nomes daquele período esteve a cineasta Julie Dash, primeira mulher afro-americana que conseguiu lançar seu filme no circuito comercial nos EUA. Filhas do Pó (1993) tem uma forte ênfase em seus aspectos visuais e serviu de inspiração para o vídeo álbum Lemonade, de Beyoncé.

    Fruitvale Station - A Última Parada (EUA, 2013)

    Ryan Coogler dosou denúncia e sensibilidade em Fruitvale Station - A Última Parada (2013), sensação em Cannes e em Sundance. Baseado em fatos reais, o filme marcou a primeira fusão do talento do cineasta com o de Michael B. Jordan. A dupla repetiu a parceria em Creed: Nascido para Lutar e no ainda inédito Pantera Negra, primeira grande produção cinematográfia sobre super-herói negro.

    A Negação do Brasil (Brasil, 2000)

    O documentário nacional A Negação do Brasil (2000) discute os estereótipos negativos contra a população negra disseminados por décadas nas telenovelas, produto cultural de forte influência no país. O necessário ataque ao mito da democracia racial tupiniquim, Joel Zito Araújo também comandou o celebrado As Filhas do Vento (2004), drama que foi sua primeira ficção e venceu oito prêmios no Festival de Gramado.

    Amor Maldito (Brasil, 1984)

    As mulheres negras são um dos grupos mais subrepresentados do cinema nacional até hoje. Por isso mesmo é importante valorizar o pioneirismo de Adélia Sampaio, primeira realizadora negra brasileira a lançar um filme no circuito. Amor Maldito (1984) acompanha os desdobramentos trágicos do romance entre duas mulheres em uma sociedade machista. Foi o único longa de Sampaio. "O cinema é elitista. Chega uma preta, filha de empregada doméstica e quer fazer filmes? Claro que foi difícil", disse, em entrevista à Trip.

    Um é Pouco, Dois é Bom (Brasil, 1970)

    Odilon Lopez se tornou o primeiro realizador negro do Brasil ao lançar a comédia de costumes Um é Pouco, Dois é Bom (1970), filme com dois segmentos sobre aspectos da vida urbana no Rio Grande do Sul. Mesmo que de forma leve e cômica, o longa aborda o racismo no enredo sobre dois ladrões que sonham em subir de vida. Um deles, interpretado por Lopez, encara o abismo social entre ele e um grupo de brancos "vanguardistas".

    Bróder (Brasil, 2009)

    Jeferson De canalizou o rigor e o conceito do movimento Dogma 1995, que tem em Lars Von Trier seu principal nome, e idealizou o Dogma Feijoada. Trata-se de um modelo de como fazer filmes valorizando a figura do negro no cinema brasileiro. O principal trabalho de Jeferson como realizador é o drama Bróder (2009), sobre três amigos de infância que tomaram rumos distintos na vida e se reencontram.

    Na Boca do Mundo (Brasil, 1979)

    Antônio Pitanga não é só um dos mais importantes atores negros do Brasil, mas também se aventurou na direção em uma época em que tal gesto era ainda mais raro do que nos dias atuais. Na Boca do Mundo (1979) traz Pitanga na pele de um pescador dividido entre o desejo por duas mulheres. O elenco traz atores como Norma Bengell, Milton Gonçalves e Maurício Gonçalves.

    Ela Volta na Quinta (EUA, 2015)

    André Novais Oliveira apontou seu olhar para sua vida pessoal e filmou seus pais na vida real no híbrido de de ficção e documentário Ela Volta na Quinta (2015). O projeto intimista conquistou dois prêmios no Festival de Brasília.

    A Viagem da Hiena (Senegal, 1973)

    O poético road movie A Viagem da Hiena (1973) acompanha a jornada de um homem e uma mulher que se sentem esquecidos pelo restante da civilização vivendo em Senegal e acreditam que uma vida melhor os espera em Paris, capital do país que colonizou sua terra natal. Com direção de Djibril Diop Mambéty, o filme foi premiado em festivais em Cannes e Moscou.

    A Negra de... (Senegal, França, 1966)

    Chamado de "pai do cinema africano", Ousmane Sembène se inspirou na Nouvelle Vague para dirigir A Negra de... (1966). O filme explora como a realidade pós-colionalista se espelha na relação entre uma mulher africana e sua patroa francesa. Trata-se do primeiro filme dirigido por um realizador da Áfria subsaariana.

    A Luz (Mali, Burkina Faso, Japão, Alemanha Ocidental, França, 1987)

    A Luz (1987) resgata histórias folclóricas ancestrais em uma ode à mitologia e à história de Mali filtrada pelo realismo mágico da visão do diretor Souleymane Cissé. Vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes.

    Visages des Femmes (Costa do Marfim, França, 1985)

    Désiré Ecaré precisou de 12 anos para concluir sua obra mais notável por ter encontrado dificuldades para encontrar investidores. Visages des Femmes é carregado nos comentários sobre costumes e discute o papel da mulher e suas vontades em sociedades repressoras. O filme da Costa do Marfim venceu o Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes.

    Bônus - The Homesteader (Estados Unidos, 1919)

    Acredita-se que o filme mudo The Homesteader (1919) tenha sido o primeiro filme dirigido, produzido e roteirizado por um realizador negro, o pioneiro Oscar Micheaux. O material original foi perdido e a obra desbravadora não pode ser apreciada pelo público atualmente.

    facebook Tweet
    Pela web
    Comentários
    Back to Top