NEM PERCAM SEU TEMPO
A série é pavorosa. A premissa é absurda, mas o fato de ser absurda é o que a torna divertida. O problema é que o roteiro não sabe o que fazer com ela. É um dos piores desenvolvimentos narrativos que eu já vi, e olha que eu já vi muita série tosca.
Cada episódio tem uma ou duas grandes revelações, o que faz com que no terceiro episódio elas já tenham se tornado muito mais tediosas que interessantes, porque sente-se o peso da mão do roteirista carente desesperado por capturar nossa atenção de maneira forçada.
E por falar em roteiro, fazia tempo que não via tanta conveniência narrativa. Chega a dar ódio. Não existe nenhuma sutileza: se o personagem precisa descobrir que foi enganado, isso vai literalmente aparecer para ele em um outdoor; se uma senha precisa ser descoberta, milagrosamente será a senha mais estúpida da face da terra. É impressionante, mas as personagens sempre estão onde precisam estar para fazer suas descobertas, num timming divino impressionante.
Como não há sutilezas, não existem também metáforas: se é preciso reforçar que um marido tóxico acaba com a vida das mulheres, essa metáfora tem que ser tornada concreta. Porque afinal, nós, expectadores, somos estúpidos demais pra entender metáforas.
A série mostra pessoas sofrendo e sendo escrotas uma com as outras o tempo inteiro, mas isso não tem nenhum impacto dramático. Zero. Morre alguém muito próximo? No máximo escorre uma lágrima e, no momento seguinte, não se fala mais nisso. Se alguém tem alguma condição problemática, como pânico, sociopatia e agorofobia, essa informação aparece na cena em que precisa e depois desaparece por completo. Como nada tem peso, nenhum personagem se torna relevante para nós, e no terceiro episódio desejamos que todo mundo morra para que possamos dormir em paz.
Tem uma tentativa de crítica social que, além de muito tosca e elementar, sequer funciona, mesmo sendo muito básica. A série parte da oposição ricos x pobres. Até aí, beleza. Só que os pobres não tem nenhum conflito de interesse narrativo, se limitando a fazer cagada atrás de cagada movido pelo ressentimento. E os ricos, que são todos uns escrotos, na verdade são idolatrados pelo filme, pois todo arco dramático pertence, de fato, a eles. Ou seja, o filme despreza os pobres tanto quanto as personagens.
Só não dei meio porque gostei de algumas coisas, como o absurdo da premissa, que me divertiu, e o início, quando as revelações ainda tinham algum peso. Mas no geral é um troço vergonhoso de ruim.
NOTA: DÓ