Confesso que fui conhecer a série depois das várias indicações ao Emmy de 2025, incluindo Melhor Atriz e Melhor Minissérie. A produção conta com Elizabeth Meriwether, que trabalhou na excelente The Dropout, e Kim Rosenstock, que esteve envolvida em Glow e Only Murders in the Building, como showrunner. Aqui temos Michelle Williams no papel de Molly Kochan, diagnosticada com câncer de mama metastático (estágio IV), e que está insatisfeita com seu casamento. Ela decide aproveitar o tempo que lhe resta em busca de uma conexão emocional e sexual autêntica, retomando o controle da própria vida. Trata-se de uma série com várias camadas, repleta de temas e pautas pouco exploradas nas produções atuais, que resultam em mensagens marcantes e muito sólidas na forma como são apresentadas — mesmo que alguns assuntos possam soar excessivamente explícitos e acabem se sobrepondo.
Michelle Williams é o grande destaque da série. Após um hiato longe de séries e filmes — sua última produção foi Os Fabelmans, muito em razão de sua gravidez — temos o retorno de uma atriz que considero uma das mais subestimadas de Hollywood. E aqui ela prova isso. O controle emocional que demonstra é impecável. Estamos falando de uma obra que exige tanto no campo da comédia quanto no drama, mas que também traz uma personagem que se recusa a ser vista como uma pessoa doente, para que não sintam pena dela ou a tratem de forma diferente. E tudo isso enquanto ela se descobre sexualmente, o que exige muito fisicamente da atriz também. A indicação ao Emmy de Melhor Atriz em Minissérie é mais do que justa: ela entrega um pacote completo de atuação. Mas o que mais me encantou foi Jenny Slate. Confesso que não conhecia outros trabalhos dela, mas aqui ela brilha quase tanto quanto Michelle Williams. Ela interpreta Nikki Boyer, amiga de Molly, que larga tudo para embarcar nessa jornada contra o câncer — e também na aventura sexual de sua amiga. A potência da série, ao lado dos temas que aborda, está centrada nas atuações das duas atrizes.
A série aborda tantos assuntos que, à medida que as temáticas vão surgindo — e muitas fogem um pouco do arco central do câncer —, eu me perguntava se a narrativa não acabaria ficando pesada. Afinal, ela trata de sexualidade, mortalidade, traumas de infância que assombram a protagonista, além do humor e das subtramas dos personagens coadjuvantes. Considerando a quantidade de pautas, acredito que a série consegue explorá-las de maneira eficiente. O problema está na forma como essas transições são conduzidas. Fiquei com a sensação de que a série, ao mudar de tema, soa um tanto didática, quase como se dissesse: “Agora falamos de sexualidade, mas vamos falar de morte e, em seguida, de outra coisa.” Os tons dentro de um mesmo episódio parecem muito distintos. Embora isso reflita a própria montanha-russa emocional da Molly, a transição nem sempre parece natural — os temas se sobrepõem, mas não coexistem com fluidez.
A série entrega mensagens poderosas, especialmente sobre sexualidade. O roteiro não tem medo de quebrar tabus e explorar fetiches, e é justamente aí que está parte do humor. A forma como o autodescobrimento da Molly é retratado traz algumas das cenas mais absurdas e hilárias da série. E, mesmo com o tom cômico, há mensagens importantes por trás dessa quebra do “sexo certinho”. No entanto, considero que a mensagem principal é sobre a força de uma amizade verdadeira — que aqui é o motor narrativo da série. Isso se destaca principalmente nos diálogos e na química entre as atrizes. Outro ponto importante é como a série subverte os estereótipos das tramas que envolvem câncer: em vez de seguir por um caminho denso e melancólico, temos uma personagem que, mesmo sem muitas esperanças, decide explorar seus desejos mais profundos e aproveitar a vida que ainda tem. Mesmo com recaídas e momentos de dor, o foco está na realização pessoal — ainda que em coisas pequenas — antes da partida.
Em resumo, Morrendo por Sexo é uma série poderosa por sua temática e pela forma como desenvolve seus assuntos. Apesar do excesso de pautas e de certa transição didática entre elas, a série constrói uma narrativa emocionante e repleta de reflexões. Ainda que peque em alguns pontos, dificilmente perde a força. As indicações ao Emmy são mais do que merecidas. Mas já adianto: essa não é uma série para todos os públicos. Em alguns momentos, pode soar explícita ou até mesmo desconfortável para pessoas mais conservadoras.