Dragon Ball Daima é uma série que surge em um momento crucial para a franquia Dragon Ball. Com a morte de Akira Toriyama em março de 2024, a série carrega o peso de ser sua última contribuição direta ao universo que ele criou. A expectativa era alta, e Daima consegue, em grande parte, honrar o legado de Toriyama, mesclando elementos clássicos da série com novas abordagens narrativas e visuais. No entanto, a série não está isenta de críticas, especialmente em relação a algumas escolhas criativas e à execução de certos aspectos técnicos.
O enredo de Dragon Ball Daima é uma volta às origens, tanto temática quanto estruturalmente. A premissa de transformar Goku e seus amigos em crianças é uma jogada arriscada, mas que funciona surpreendentemente bem. Essa decisão não apenas permite uma narrativa mais leve e humorística, mas também reintroduz um senso de vulnerabilidade que havia se perdido nas séries mais recentes, como Dragon Ball Super. A necessidade de os personagens dependerem mais da inteligência e do trabalho em equipe do que da força bruta é um sopro de ar fresco em uma franquia que muitas vezes se apoiava em batalhas épicas e transformações cada vez mais poderosas.
A jornada pelo "Mundo dos Demônios" e a introdução do misterioso Majin Glorio adicionam camadas de mistério e fantasia que remetem às primeiras temporadas de Dragon Ball. No entanto, o ritmo da narrativa pode ser irregular em alguns momentos, com episódios que parecem alongar-se desnecessariamente para preencher o cronograma de 20 episódios. Ainda assim, o enredo é coeso e mantém o espectador engajado, especialmente com a canonização de transformações como o Super Sayajin 3 de Vegeta e o Super Sayajin 4 de Goku, que agradam aos fãs mais antigos.
A dublagem japonesa, como sempre, é impecável. Masako Nozawa, aos 87 anos, continua a entregar uma performance vibrante e emocional como Goku, provando por que é uma lenda no mundo dos voice actors. A adição de novos talentos, como Koki Uchiyama (Glorio) e Fairouz Ai (Panzy), também é um acerto, trazendo frescor ao elenco. A substituição de Tōru Furuya por Ryōta Suzuki como Yamcha, no entanto, é uma mudança que divide opiniões. Enquanto Suzuki faz um trabalho competente, a ausência de Furuya, um ícone da franquia, é sentida.
O roteiro de Dragon Ball Daima é uma das suas maiores forças. Yūko Kakihara, responsável pela composição da série, consegue capturar o espírito aventureiro e descontraído das primeiras temporadas de Dragon Ball, enquanto mantém uma narrativa que agrada ao público moderno. Os diálogos são bem construídos, equilibrando humor, drama e momentos de reflexão sobre temas como amizade, vulnerabilidade e superação. A decisão de focar em uma história mais autoconclusiva, em vez de expandir o cânone de forma desnecessária, também é um acerto.
No entanto, há momentos em que o roteiro parece repetitivo, especialmente em cenas de ação que se estendem além do necessário. Além disso, alguns personagens secundários, como Dr. Arinsu e Gomah, poderiam ter sido melhor desenvolvidos, já que suas motivações e arcos parecem um tanto superficiais.
A direção de Yoshitaka Yashima e Aya Komaki é competente, mas não revolucionária. A série mantém o estilo visual característico de Dragon Ball, com planos de ação dinâmicos e cenários coloridos. No entanto, há uma falta de ousadia em experimentar novas técnicas visuais, o que poderia ter elevado a experiência do espectador. A animação, por outro lado, é consistente e de alta qualidade, com cenas de luta fluidas e bem coreografadas.
A trilha sonora de Dragon Ball Daima é um destaque. A música tema, revelada no quarto trailer, é cativante e combina perfeitamente com o tom aventureiro da série. A trilha incidental, composta por Shunsuke Kikuchi (que retorna à franquia após anos de ausência), é uma mistura de temas clássicos e novas composições que evocam nostalgia sem parecer repetitiva. A música desempenha um papel crucial na construção do clima da série, especialmente em momentos emocionais e de ação.
O final da primeira temporada de Dragon Ball Daima é satisfatório, mas deixa espaço para uma possível continuação. Sem spoilers, é possível dizer que o arco principal é concluído de forma coesa, com um desfecho emocionante que homenageia o legado de Toriyama. No entanto, algumas pontas soltas e a introdução de novos elementos no último episódio sugerem que a história pode continuar, caso uma segunda temporada seja confirmada.
Dragon Ball Daima é uma série que consegue equilibrar nostalgia e inovação, oferecendo uma experiência que agrada tanto aos fãs antigos quanto aos novos. Apesar de algumas falhas pontuais, como o ritmo irregular e a falta de desenvolvimento de alguns personagens, a série é uma adição digna ao universo de Dragon Ball. A direção criativa de Toriyama é sentida em cada aspecto da produção, e o resultado é uma homenagem emocionante ao seu legado.