A série *Senna*, da Netflix, chega como uma das produções brasileiras mais aguardadas dos últimos anos, carregando o peso de homenagear um dos maiores ícones nacionais. A responsabilidade é imensa: não apenas pelo legado de Ayrton Senna, tricampeão mundial de Fórmula 1 e um herói eterno para o Brasil, mas também pelo fato de ser uma produção de alto nível destinada a um público global. E, em diversos momentos, a série entrega o que promete, com uma reconstrução visual de tirar o fôlego e uma dedicação evidente aos detalhes que marcaram a vida e a carreira do piloto. No entanto, apesar de suas qualidades, *Senna* tropeça em sua narrativa, especialmente ao abordar a vida pessoal e emocional do protagonista.
O maior trunfo da série é, sem dúvida, a recriação das corridas. As cenas de automobilismo são conduzidas com maestria, unindo direção de arte, edição e som de forma magistral. O rugido dos motores e as narrações icônicas de Galvão Bueno transportam o espectador para a atmosfera vibrante dos domingos nos anos 90, oferecendo uma experiência imersiva que emociona. A fidelidade aos detalhes é impressionante, desde os traços dos carros até a reconstrução dos circuitos e a captura da rivalidade com Alain Prost, que dominou as manchetes da época. Essas sequências representam o ápice técnico da série, reafirmando o compromisso da produção com a grandiosidade do legado de Senna.
Entretanto, é no roteiro que *Senna* perde parte de sua força. Planejada inicialmente como uma temporada de oito episódios, a série foi reduzida para seis, o que resultou em uma narrativa acelerada, especialmente na reta final. A escolha de compactar eventos cruciais da carreira de Ayrton, como seus três títulos mundiais e sua luta pela segurança no automobilismo, cria a sensação de que os roteiristas estavam correndo contra o tempo. Enquanto as cenas de corrida brilham, os momentos que exploram a vida pessoal e os relacionamentos de Senna ficam superficiais. A relação com Adriane Galisteu, por exemplo, é tratada quase como uma nota de rodapé, enquanto o envolvimento com Xuxa carece de impacto emocional. As subtramas relacionadas à segurança dos pilotos e aos conflitos com a direção da Fórmula 1, aspectos fundamentais do legado de Senna, são mencionadas de forma apressada, sem o aprofundamento necessário.
Apesar disso, Gabriel Leone brilha no papel de Ayrton. Sua interpretação, embora inicialmente questionada pela falta de semelhança física com o piloto, revela-se poderosa. Leone consegue transmitir a determinação e o carisma que definiram Senna, especialmente nos momentos mais introspectivos. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a série, mesmo quando o roteiro não está à altura da complexidade do personagem. O restante do elenco também se destaca, com escolhas que prezam pela fidelidade visual e emocional aos personagens reais, um esforço que merece reconhecimento.
No geral, *Senna* é uma produção que emociona e impressiona, mas que também deixa a sensação de que poderia ter sido mais. Quando se concentra no automobilismo, a série atinge seu ápice, entregando cenas de corrida que capturam toda a emoção e a grandiosidade de Ayrton. Contudo, ao tentar abarcar todos os aspectos da vida do piloto em um espaço limitado, sacrifica a profundidade de suas subtramas, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos e às questões pessoais. Ainda assim, *Senna* cumpre sua missão de relembrar a glória de Ayrton Senna e reforçar seu lugar como um ícone eterno na história do Brasil e do esporte mundial. Uma obra essencial para fãs de automobilismo e para todos que desejam revisitar a magia de um dos maiores heróis que o Brasil já produziu.