CRÍTICA TÉCNICA — TUDO PEDE SALVAÇÃO
“A obra Tudo Pede Salvação não representa, em nenhum momento, a prática clínica psiquiátrica contemporânea.
Do ponto de vista médico, ético e procedimental, o filme apresenta uma série de inconsistências graves que distorcem o funcionamento real de um serviço de saúde mental.
O enredo exibe condutas incompatíveis com as diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com as normas de segurança e humanização estabelecidas pelo Ministério da Saúde e com as resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), especialmente no que diz respeito a:
manejo de pacientes em crise, que no filme é retratado sem avaliação estruturada, sem planos terapêuticos individualizados e sem supervisão adequada;
procedimentos de internação psiquiátrica, mostrados de forma simplificada e irreal, ignorando critérios clínicos, documentações obrigatórias e protocolos de risco;
relações entre equipe e pacientes, que no enredo são caricatas, pouco profissionais e distantes dos princípios éticos de respeito, sigilo, empatia e limites bem definidos;
contenções físicas e medidas de segurança, retratadas sem observar normas legais, diretrizes técnicas, equipe treinada ou registros formais;
ambiente hospitalar, construído como cenário dramático e não como unidade clínica, ausente de rotinas, fluxos assistenciais, supervisão, equipe multidisciplinar estruturada e intervenções baseadas em evidências.
Além disso, a narrativa romantiza situações que, na prática, exigem rigor técnico, documentação precisa, monitorização contínua e responsabilidade legal.
A psiquiatria retratada no filme não corresponde a nenhuma linha de cuidado reconhecida, tampouco reflete a complexidade do tratamento de transtornos mentais graves, o trabalho multidisciplinar ou os parâmetros éticos atuais.
Em síntese, Tudo Pede Salvação deve ser compreendido como ficção dramática, sem compromisso com a realidade da medicina. Seu valor é simbólico e emocional, não clínico. Para fins profissionais, educacionais ou de referência à prática psiquiátrica, o conteúdo apresentado é inadequado e tecnicamente incorreto.”